Já era tarde - parte 2 : com outra opinião
O texto abaixo, retirado do ótimo blog do Noblat, é do Senador do DEM Demóstenes Torres. Embore não concorde com algumas posições, acho que no geral sua crítica é muito bem procedente e acrescenta outro ponto de vista a meu texto abaixo:
Ainda que na linguagem diplomática o chamamento de volta a Brasília do embaixador em Quito signifique o primeiro passo para o rompimento das relações com o Equador, foi tímida a reação do presidente Lula em relação ao calote da dívida com o BNDES. Mostrou-se indignado, mas não extremamente indignado como é natural que se proceda neste caso. Não fosse a crise econômica mundial, os petistas preferiam assimilar um prejuízo a mais à destruição da grande agenda propositiva desenvolvida junto aos vizinhos e amigos latino-americanos.
Observem que não há um clima de insatisfação do indulgente governo brasileiro com o mérito da atitude caloteira do presidente Rafael Correa. Há muita gente dentro do Palácio do Planalto que reconhece o esbulho como uma atitude legítima de uma nação pobre contra a ganância corruptora de uma empreiteira. O que pesa é a oportunidade. Ante a incerteza de que o mundo possa acabar, não é hora de distribuir benevolências e Correa esperneou um tanto tardiamente.
Na verdade, o governo brasileiro enquanto acreditou que a crise era um problema de Bush, meu filho, tratou da insubordinação equatoriana com o que se pode chamar de resistência passiva de um cônjuge enganado. O Brasil aceitou que a Odebrecht fosse expulsa do País. Depois admitiu sem reclamar que o mesmo ocorresse com Furnas, uma estatal da maior competência técnica e probidade. Ato contínuo quase que igual destino foi reservado à Petrobrás, fato que não se consumou depois de a empresa petrolífera se submeter a uma quebra temporária de contrato cujo prejuízo foi apenas adiado.
No afã de conquistar liderança moral da América Latina, o Brasil criou política externa centrada na comiseração. Somos credores de muito destes países, grande parte do investimento produtivo que eles recebem vem do Brasil, vez por outra perdoamos dívidas e mediamos conflitos em que eles se envolvem. Mesmo assim ficamos satisfeitos quando nos tratam como cachorro de rua. O interessante é que nações como a Bolívia, o Paraguai e o Equador justamente se munem do nosso extremo sentimento de humanidade e clemência para nos bombardear.
Correa, por exemplo, conta com a pronta mobilização de um certo Movimento Indígena Equatoriano para defender a soberania do seu país contra o imperialismo brasileiro. Fernando Lugo tem uma versão paraguaia dos sem-terra como força de reserva para eventual tomada de Itaipu. Morales se deu muito bem ao dar configuração étnica ao ato bandoleiro de invadir propriedade privada e quebrar a segurança contratual com a Petrobrás. Como líder, deveríamos lutar pelo aperfeiçoamento democrático, quando, no entanto, alimentamos o populismo macróbio.
A disposição caloteira de Rafael Correa é inaceitável sob qualquer aspecto. Agora é preciso ficar atento pois pode significar a antecipação de uma moratória geral dos países bolivarianos em conseqüência da queda acentuada do preço do petróleo. Em vez de assumir a missão de salvador da pátria alheia, a diplomacia brasileira fará bem ao País caso atue com a personalidade de líder. Não fará nenhum mal se assimilar os fundamentos da Doutrina do Guatambu desenvolvida por Theodore Roosevelt a respeito da influência geopolítica: “Fale suavemente, mas mantenha à mão um grande porrete.”
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)
Ainda que na linguagem diplomática o chamamento de volta a Brasília do embaixador em Quito signifique o primeiro passo para o rompimento das relações com o Equador, foi tímida a reação do presidente Lula em relação ao calote da dívida com o BNDES. Mostrou-se indignado, mas não extremamente indignado como é natural que se proceda neste caso. Não fosse a crise econômica mundial, os petistas preferiam assimilar um prejuízo a mais à destruição da grande agenda propositiva desenvolvida junto aos vizinhos e amigos latino-americanos.
Observem que não há um clima de insatisfação do indulgente governo brasileiro com o mérito da atitude caloteira do presidente Rafael Correa. Há muita gente dentro do Palácio do Planalto que reconhece o esbulho como uma atitude legítima de uma nação pobre contra a ganância corruptora de uma empreiteira. O que pesa é a oportunidade. Ante a incerteza de que o mundo possa acabar, não é hora de distribuir benevolências e Correa esperneou um tanto tardiamente.
Na verdade, o governo brasileiro enquanto acreditou que a crise era um problema de Bush, meu filho, tratou da insubordinação equatoriana com o que se pode chamar de resistência passiva de um cônjuge enganado. O Brasil aceitou que a Odebrecht fosse expulsa do País. Depois admitiu sem reclamar que o mesmo ocorresse com Furnas, uma estatal da maior competência técnica e probidade. Ato contínuo quase que igual destino foi reservado à Petrobrás, fato que não se consumou depois de a empresa petrolífera se submeter a uma quebra temporária de contrato cujo prejuízo foi apenas adiado.
No afã de conquistar liderança moral da América Latina, o Brasil criou política externa centrada na comiseração. Somos credores de muito destes países, grande parte do investimento produtivo que eles recebem vem do Brasil, vez por outra perdoamos dívidas e mediamos conflitos em que eles se envolvem. Mesmo assim ficamos satisfeitos quando nos tratam como cachorro de rua. O interessante é que nações como a Bolívia, o Paraguai e o Equador justamente se munem do nosso extremo sentimento de humanidade e clemência para nos bombardear.
Correa, por exemplo, conta com a pronta mobilização de um certo Movimento Indígena Equatoriano para defender a soberania do seu país contra o imperialismo brasileiro. Fernando Lugo tem uma versão paraguaia dos sem-terra como força de reserva para eventual tomada de Itaipu. Morales se deu muito bem ao dar configuração étnica ao ato bandoleiro de invadir propriedade privada e quebrar a segurança contratual com a Petrobrás. Como líder, deveríamos lutar pelo aperfeiçoamento democrático, quando, no entanto, alimentamos o populismo macróbio.
A disposição caloteira de Rafael Correa é inaceitável sob qualquer aspecto. Agora é preciso ficar atento pois pode significar a antecipação de uma moratória geral dos países bolivarianos em conseqüência da queda acentuada do preço do petróleo. Em vez de assumir a missão de salvador da pátria alheia, a diplomacia brasileira fará bem ao País caso atue com a personalidade de líder. Não fará nenhum mal se assimilar os fundamentos da Doutrina do Guatambu desenvolvida por Theodore Roosevelt a respeito da influência geopolítica: “Fale suavemente, mas mantenha à mão um grande porrete.”
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)