GM falindo: entre o liberalismo racional e a emoção.
Com a crise mundial, o liberalismo acabou: a era da intervenção do estado na economia estaria de volta e desta vez para ficar. Verdade?
Uma verdade é fato: a desregulamentação financeira que começou nos anos do presidente Reagan e da primeira ministra britânica Tatcher é uma das causas da crise. Bancos puderam emprestar dinheiro a quem não podia pagar: ao mesmo tempo, os próprios bancos emitiam títulos, forma sofisticada de dizer que podiam produzir dinheiro, como um enorme cheque pré-datado, e estes títulos eram depois renegociados mundo afora. Tudo sem supervisão nenhuma do Banco Central americano, que poderia ter impedido tal sistema. Pelo jeito, este tipo de ciranda financeira, que aliás acompanha o capitalismo desde sua origem, não volta mais, pelo menos por enquanto, até quando outros bancos inventarem outros meios ainda mais sofisticados de fazer dinheiro. E der noutra crise.
Porém, daí dizer que o estado deve sempre intervir na economia vai uma diferença.
Veja o caso das Big Three, as montadoras americanas: GM, Ford e Chrysler. A GM hoje vale em bolsa menos que a Natura, enquanto a Chrysler só não faliu de vez porque o fundo que a controla, o Cerberus, até agora não conseguiu se desfazer da empresa. Discute-se hoje nos EUA um socorre bilionário a essas empresas.
Claro que milhares de empregos, portanto vidas, seriam destruídos com a falência de uma empresa do porte da GM: do ponto de vista racional e emocional, nós, brasileiros, já estaríamos raspando todas as economias do Tesouro Nacional para ajudar uma GM, caso fosse no Brasil. Lá nos EUA, eles ainda discutem o problema e relutam em dar dinheiro a GM: sucididas? idiotas, esperando uma empresa de 111 anos quebrar? desumanos, esperando milhares de empregos serem pulverizados? Calma lá...
As empresas americanas de carros estão em sérias dificuldades, mas outras empresas estrangeiras por lá instaladas, Toyota, Honda, Nissan, VW, viram suas vendas caírem, mas nem por isso estão falindo. O que ocorreu foi uma conjunção de duas crises, infelizes para as montadoras americanas, mas esperadas. A crise da indústria americana vem de longe: desde 1973, com o primeiro choque do petróleo, que ficou evidente que o "carro americano", aquele monstro com 6 ou 8 cilindros, pesado e enorme, com baixa tecnologia e aquelas picapes 4X4 devoradoras de petróleo, eram inviáveis no longo prazo. Foi o primeiro golpe no modelo americano de andar de carro. Depois, veio a bonança dos anos 90, com crescimento econômico nunca visto, em grande parte aliás, devido as operações financeiras que irrigaram a classe média americana com crédito farto, e falar de carro grande e gastador virou coisa de ecologista: o modelo americano de carro continuou.
Quando o petróleo bateu nos 150 dólares, de novo, a realidade apareceu: o consumidor americano voltou a ignorar os carros imensos. Por essa época, 1 ano e meio atrás, a GM já contabilizava prejuízos bilionários e a Chrysler, falida, foi vendida para um fundo de investimentos. A Ford anunciou fechamento de várias fábricas e pela primeira vez, preparou o lançamento de um carro europeu, compacto, o Fiesta, nos EUA. A era dos carrões tinha acabado.
Passado esse 1 ano e meio, veio a crise financeira, que apenas piorou o que já estava ruim. A imagem das marcas americanas no próprio mercado americano é péssima: eles mesmos não gostam de suas empresas, pois seus produtos são vistos como beberrões, ultrapassados, feios e pouco confiáveis, bem ao contrário dos carros japoneses, alemães e agora coreanos, sempre no topo das pesquisas de qualidade.
O problema agora é outro: com a GM á beira da falência, o que fazer ? Simplesmente deixar quebrar, dizendo que a culpa foi da própria empresa, que não soube modernizar sua linha de produtos e aumentar qualidade ? Devo dizer que a opção ideal mais correta seria essa,tanto para liberais como até para esquerdistas que odeiam tudo que é americano, mas não vivemos num mundo ideal.
A outra alternativa, mais ao jeito brasileiro, de esquerda, católico, emocional, seria dar alguns bilhões a GM, fingir que tudo está bem, e esperar a próxima crise, perdoando os erros evidentes de administração da empresa. É mais emocional e salva empregos, mas revolta o estômago, além de dar um sinal errado a todas as outras empresas americanas: façam merda que o governo conserta.
Entre o ideal e o real, debate-se nos EUA o que fazer: não deixar quebrar, mas também não dar um cheque em branco. É esse pragmatismo, sem firulas ideológicas liberais ou esquerdistas, que deve prevalecer, o que é muito difícil.
Discute-se como manter a GM vida, mas ao mesmo tempo exigir modernização de produtos, alinhamento ecológico e rígidos controles orçamentários do dinheiro do contribuinte que foi salbar uma empresa privada.
Entre o debate liberal e o de esquerda, fico com os dois: há pontos de vistas fundamentais que a esquerda tem razão em apontar, o capitalismo pé injusto, as crises são frutos da ganância, mas os liberais têm um ponto que não dá pra negar: dinheiro público não deve ser jogado fora em empresas privadas incompetentes. Bem que no Brasil poderíamos aprender um pouco com esse pragmantismo americano.
Uma verdade é fato: a desregulamentação financeira que começou nos anos do presidente Reagan e da primeira ministra britânica Tatcher é uma das causas da crise. Bancos puderam emprestar dinheiro a quem não podia pagar: ao mesmo tempo, os próprios bancos emitiam títulos, forma sofisticada de dizer que podiam produzir dinheiro, como um enorme cheque pré-datado, e estes títulos eram depois renegociados mundo afora. Tudo sem supervisão nenhuma do Banco Central americano, que poderia ter impedido tal sistema. Pelo jeito, este tipo de ciranda financeira, que aliás acompanha o capitalismo desde sua origem, não volta mais, pelo menos por enquanto, até quando outros bancos inventarem outros meios ainda mais sofisticados de fazer dinheiro. E der noutra crise.
Porém, daí dizer que o estado deve sempre intervir na economia vai uma diferença.
Veja o caso das Big Three, as montadoras americanas: GM, Ford e Chrysler. A GM hoje vale em bolsa menos que a Natura, enquanto a Chrysler só não faliu de vez porque o fundo que a controla, o Cerberus, até agora não conseguiu se desfazer da empresa. Discute-se hoje nos EUA um socorre bilionário a essas empresas.
Claro que milhares de empregos, portanto vidas, seriam destruídos com a falência de uma empresa do porte da GM: do ponto de vista racional e emocional, nós, brasileiros, já estaríamos raspando todas as economias do Tesouro Nacional para ajudar uma GM, caso fosse no Brasil. Lá nos EUA, eles ainda discutem o problema e relutam em dar dinheiro a GM: sucididas? idiotas, esperando uma empresa de 111 anos quebrar? desumanos, esperando milhares de empregos serem pulverizados? Calma lá...
As empresas americanas de carros estão em sérias dificuldades, mas outras empresas estrangeiras por lá instaladas, Toyota, Honda, Nissan, VW, viram suas vendas caírem, mas nem por isso estão falindo. O que ocorreu foi uma conjunção de duas crises, infelizes para as montadoras americanas, mas esperadas. A crise da indústria americana vem de longe: desde 1973, com o primeiro choque do petróleo, que ficou evidente que o "carro americano", aquele monstro com 6 ou 8 cilindros, pesado e enorme, com baixa tecnologia e aquelas picapes 4X4 devoradoras de petróleo, eram inviáveis no longo prazo. Foi o primeiro golpe no modelo americano de andar de carro. Depois, veio a bonança dos anos 90, com crescimento econômico nunca visto, em grande parte aliás, devido as operações financeiras que irrigaram a classe média americana com crédito farto, e falar de carro grande e gastador virou coisa de ecologista: o modelo americano de carro continuou.
Quando o petróleo bateu nos 150 dólares, de novo, a realidade apareceu: o consumidor americano voltou a ignorar os carros imensos. Por essa época, 1 ano e meio atrás, a GM já contabilizava prejuízos bilionários e a Chrysler, falida, foi vendida para um fundo de investimentos. A Ford anunciou fechamento de várias fábricas e pela primeira vez, preparou o lançamento de um carro europeu, compacto, o Fiesta, nos EUA. A era dos carrões tinha acabado.
Passado esse 1 ano e meio, veio a crise financeira, que apenas piorou o que já estava ruim. A imagem das marcas americanas no próprio mercado americano é péssima: eles mesmos não gostam de suas empresas, pois seus produtos são vistos como beberrões, ultrapassados, feios e pouco confiáveis, bem ao contrário dos carros japoneses, alemães e agora coreanos, sempre no topo das pesquisas de qualidade.
O problema agora é outro: com a GM á beira da falência, o que fazer ? Simplesmente deixar quebrar, dizendo que a culpa foi da própria empresa, que não soube modernizar sua linha de produtos e aumentar qualidade ? Devo dizer que a opção ideal mais correta seria essa,tanto para liberais como até para esquerdistas que odeiam tudo que é americano, mas não vivemos num mundo ideal.
A outra alternativa, mais ao jeito brasileiro, de esquerda, católico, emocional, seria dar alguns bilhões a GM, fingir que tudo está bem, e esperar a próxima crise, perdoando os erros evidentes de administração da empresa. É mais emocional e salva empregos, mas revolta o estômago, além de dar um sinal errado a todas as outras empresas americanas: façam merda que o governo conserta.
Entre o ideal e o real, debate-se nos EUA o que fazer: não deixar quebrar, mas também não dar um cheque em branco. É esse pragmatismo, sem firulas ideológicas liberais ou esquerdistas, que deve prevalecer, o que é muito difícil.
Discute-se como manter a GM vida, mas ao mesmo tempo exigir modernização de produtos, alinhamento ecológico e rígidos controles orçamentários do dinheiro do contribuinte que foi salbar uma empresa privada.
Entre o debate liberal e o de esquerda, fico com os dois: há pontos de vistas fundamentais que a esquerda tem razão em apontar, o capitalismo pé injusto, as crises são frutos da ganância, mas os liberais têm um ponto que não dá pra negar: dinheiro público não deve ser jogado fora em empresas privadas incompetentes. Bem que no Brasil poderíamos aprender um pouco com esse pragmantismo americano.
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