Aviso ao leitor
Cada vez mais fica evidente para mim que os conceitos de Democracia e Liberdade NÃO estão associados.... ou pelo menos, estão cada dia, mais distantes.
Vivemos numa sociedade democrática, elegemos nossos governantes, sejam eles ruins ou ainda piores, a cada 2 anos, mas nossa liberdade de pensar, de ser, de vestir, de se comportar está sujeita a uma vigilância feroz. Não que hoje alguém seja preso por falar algo ou escrever coisas diferentes do chamado "normal". Mas a vigilância é mais sutil, é uma censura prévia, uma sombra sempre a impedir o pensamento complexo, livre e criativo. A mensagem que está no ar é : pense, mas só o que se pode pensar...
veja esta situação expressa no texto abaixo que pirateio do blog do historiador e jornalista Marcon Guterman: sabemos que Monteiro Lobato, como muitos de sua geração, foi formado com ideais racistas ainda muito fortes no final do XIX e início do XX. Tal formação era científica na época, assim como sabemos que Euclides da Cunha também tinha esse tipo de pensamento. Ora, hoje o racismo é apenas lixo cultural. Mas um dia foi tese de cientista social e pensamento dominante na elite intelectual. Como ler um texto de Monteiro à luz de seu racismo? Chave crítica: entender o texto, e seu autor, à luz de sua época, o que aliás é algo tão óbvio quanto fundamental em qualquer análise literária e histórica. Pois bem, cartas racistas de Monteiro Lobato foram publicadas na revista Bravo!: resultado, a censura do politicamente correto já agiu... como sabe que simplesmente proibir tais cartas seria demais, até para eles, quer que elas sejam "carimbadas" de racistas, como numa advertência ao leitor... Conclusão 1: para o politicamente correto, somos todos idiotas, devemos ser "avisados" de "perigos" intelectuais à frente, a cada texto que lemos... Conclusão 2: você não censura Monteiro... mas censura! Lembra claramente a censura dos anos 70, quando os filmes tinham aquela tarjeta classificatória.
Impede-se o pensamento livre, a contextualização adulta, em nome de uma suposta "pureza" de linguagem e uniformidade de pensamento: Monteiro era racista ? Avise o leitor.... E por aí vai. Concordo plenamente com o texto abaixo de Guterman: Voltaire era antissemita? aviso ao leitor.... A Mônica do Maurício de Sousa faz bullyng com o Cebolinha ? Aviso ao leitor....
É uma sociedade triste, infantilizada, vigiada, uniforme. Democracia com suave tirania e uma censura leve. Aviso ao leitor.
texto do blog: Marcos Guterman
http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/
A publicação de cartas de Monteiro Lobato com teor racista, na revista Bravo!, ressuscitou a discussão sobre a necessidade de fazer a obra de um dos maiores autores brasileiros ser carimbada com advertências sobre seu racismo. Das várias manifestações a favor dessa medida, uma das mais completas foi expressa por Paulo Moreira Leite em seu blog. Ele se diz contra proibir Lobato por causa de seu racismo, mas afirma que “esses ataques” não podem “circular livremente”, “num país em que 53% dos brasileiros se consideram negros”. Para Leite, as “agressões” de Lobato demandam “contextualização” crítica, porque “o mesmo Estado que tem o dever de defender a liberdade de expressão de Lobato também tem a obrigação de condenar ataques racistas”.
É óbvio que toda obra clássica deve ser contextualizada, porque textos assim são espelhos de um passado que nos influencia de modo determinante. Para compreender um clássico, é preciso mergulhar nele e conhecer o repertório que o engendrou. No entanto, o que muda essencialmente de nossa leitura de Voltaire quando conhecemos seu lado antissemita? O que muda quando sabemos que Picasso atormentou sua amante Dora Maar para ter um modelo de sofrimento para sua obra-prima Guernica? O que muda quando lemos que o Padre Antônio Vieira, talvez o mais importante orador em língua portuguesa, considerava a escravidão uma dádiva para os negros, porque os havia tirado da condição de gentios na África?
Desse modo, a contextualização de Lobato deve ser feita sim, mas não por um militante do politicamente correto, preocupado em defender os “53% dos brasileiros que se consideram negros”, e sim por quem trate o texto como documento de uma época e explore sua riqueza para conhecermos melhor o mundo contraditório em que vivemos.
Se Lobato só puder circular com um “disclaimer” sobre seu racismo, então sugiro que a Bíblia seja sempre acompanhada de um aviso no qual se leia: “Esta obra faz apologia da escravidão e da sujeição feminina
Vivemos numa sociedade democrática, elegemos nossos governantes, sejam eles ruins ou ainda piores, a cada 2 anos, mas nossa liberdade de pensar, de ser, de vestir, de se comportar está sujeita a uma vigilância feroz. Não que hoje alguém seja preso por falar algo ou escrever coisas diferentes do chamado "normal". Mas a vigilância é mais sutil, é uma censura prévia, uma sombra sempre a impedir o pensamento complexo, livre e criativo. A mensagem que está no ar é : pense, mas só o que se pode pensar...
veja esta situação expressa no texto abaixo que pirateio do blog do historiador e jornalista Marcon Guterman: sabemos que Monteiro Lobato, como muitos de sua geração, foi formado com ideais racistas ainda muito fortes no final do XIX e início do XX. Tal formação era científica na época, assim como sabemos que Euclides da Cunha também tinha esse tipo de pensamento. Ora, hoje o racismo é apenas lixo cultural. Mas um dia foi tese de cientista social e pensamento dominante na elite intelectual. Como ler um texto de Monteiro à luz de seu racismo? Chave crítica: entender o texto, e seu autor, à luz de sua época, o que aliás é algo tão óbvio quanto fundamental em qualquer análise literária e histórica. Pois bem, cartas racistas de Monteiro Lobato foram publicadas na revista Bravo!: resultado, a censura do politicamente correto já agiu... como sabe que simplesmente proibir tais cartas seria demais, até para eles, quer que elas sejam "carimbadas" de racistas, como numa advertência ao leitor... Conclusão 1: para o politicamente correto, somos todos idiotas, devemos ser "avisados" de "perigos" intelectuais à frente, a cada texto que lemos... Conclusão 2: você não censura Monteiro... mas censura! Lembra claramente a censura dos anos 70, quando os filmes tinham aquela tarjeta classificatória.
Impede-se o pensamento livre, a contextualização adulta, em nome de uma suposta "pureza" de linguagem e uniformidade de pensamento: Monteiro era racista ? Avise o leitor.... E por aí vai. Concordo plenamente com o texto abaixo de Guterman: Voltaire era antissemita? aviso ao leitor.... A Mônica do Maurício de Sousa faz bullyng com o Cebolinha ? Aviso ao leitor....
É uma sociedade triste, infantilizada, vigiada, uniforme. Democracia com suave tirania e uma censura leve. Aviso ao leitor.
texto do blog: Marcos Guterman
http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/
A publicação de cartas de Monteiro Lobato com teor racista, na revista Bravo!, ressuscitou a discussão sobre a necessidade de fazer a obra de um dos maiores autores brasileiros ser carimbada com advertências sobre seu racismo. Das várias manifestações a favor dessa medida, uma das mais completas foi expressa por Paulo Moreira Leite em seu blog. Ele se diz contra proibir Lobato por causa de seu racismo, mas afirma que “esses ataques” não podem “circular livremente”, “num país em que 53% dos brasileiros se consideram negros”. Para Leite, as “agressões” de Lobato demandam “contextualização” crítica, porque “o mesmo Estado que tem o dever de defender a liberdade de expressão de Lobato também tem a obrigação de condenar ataques racistas”.
É óbvio que toda obra clássica deve ser contextualizada, porque textos assim são espelhos de um passado que nos influencia de modo determinante. Para compreender um clássico, é preciso mergulhar nele e conhecer o repertório que o engendrou. No entanto, o que muda essencialmente de nossa leitura de Voltaire quando conhecemos seu lado antissemita? O que muda quando sabemos que Picasso atormentou sua amante Dora Maar para ter um modelo de sofrimento para sua obra-prima Guernica? O que muda quando lemos que o Padre Antônio Vieira, talvez o mais importante orador em língua portuguesa, considerava a escravidão uma dádiva para os negros, porque os havia tirado da condição de gentios na África?
Desse modo, a contextualização de Lobato deve ser feita sim, mas não por um militante do politicamente correto, preocupado em defender os “53% dos brasileiros que se consideram negros”, e sim por quem trate o texto como documento de uma época e explore sua riqueza para conhecermos melhor o mundo contraditório em que vivemos.
Se Lobato só puder circular com um “disclaimer” sobre seu racismo, então sugiro que a Bíblia seja sempre acompanhada de um aviso no qual se leia: “Esta obra faz apologia da escravidão e da sujeição feminina
3 Comments:
Ah professor! Vc deveria passar o seu blog pro pessoal do cursinho poder ter acesso também...quem sabe eles não se interessam?
Veja só: eu checo todos os dias, já li todos os posts, estou curtindo um monte pois acho seus textos excelentes, sucintos, críticos, com temas atuais e interdependentes.
Mas, eu só descobri porque perguntei e pesquisei no google, lembra?
Caso vc me autorize, eu posso passar para os meus colegas, tudo bem?
Um abraço,
Marina
(ah...do CPT, de Santos...a mais velha do cursinho.)
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A revista Bravo! é uma piada faz tempo.
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