Thursday, March 27, 2008

Cotas

Atendo a pedido e escrevo um pouco sobre a politica de cotas nas universidades- depois eu volto ao assunto que tinha descrito no post sobre educação.

A política de cotas foi criada nos EUA para ampliar o acesso aos afro-descendentes, nome politicamente correto, que estavam tradicionalmente fora das universidades americanas. Tal política foi declarada há pouco tempo inconstitucional pela Suprema Corte americana e foi revogada na maioria das universidades. O Brasil, claro, copiou a política.

Primeiro, é necessário entender o contexto americano:
1- a sociedade americana é bem menos miscigenada que a brasileira. Lá, negro e branco dificilmente casam entre si, a tal ponto que o termo "pardo", usado pelo IBGE, não existe por lá.
2-as universidades americanas não têm vestibular. O acesso a elas se dá por cartas-convite, quando a própria universidade convida um aluno, por análise de currículo escolar do ensino médio ou ainda por pura e simples compra de vaga. George Bush, o idiota presidente americano, estudou na poderosa U. de Harvard, com certeza não por causa dos seus dotes intelectuais mas por ser filho de um ex-presidente.
3-os negros nos EUA são minoria. Ou seja, a população é majoritariamente branca e como sabemos no item 1, não há quase mistura racial.

Agora, vamos ao contexto brasileiro:
1-a sociedade é multirracial e há intensa miscigenação. Ninguém com família há mais de 150 anos no Brasil pode se dizer 100% branca... a maioria da população do Brasil é de "pardos", este termo interessante usado pelo IBGE para dizer que, no fundo, quase todos nós brasileiros somos fortemente marcados pela mistura de raças, a tal ponto que na maioria das vezes o critério de ser ou não negro é impossível de ser definido com exatidão.
2-no Brasil, as universidades públicas têm vestibular, que é um critério de escolha objetivo, baseado só no mérito intelectual. Verdade que alunos pobres têm menos chance, mas igualmente verdade que alunos ricos e burros não entram. É um critério de mérito, não de convites ou grana.
3-no Brasil, negros não são pequena minoria, mas em vários estados, são maioria, ou no mínimo, maioria como "pardos".

Quando se compara os dois contextos-, vê-se que o sistema de cotas no Brasil é uma cópia mal feita de um sistema que mesmo no país de origem já foi abandonado. Perguntas:
1-o que é ser negro no Brasil ? como diferenciar um negro de um branco num país com intensa miscigenação racial?
2-e o branco pobre, como fica? se o vestibular exclui o negro, por ser pobre e ter estudado em escola ruim, em sua maioria, o branco pobre fica duplamente excluído, por ser pobre e ter que estudar em escolas ruins e por ser branco.
3-qual o critério que será usado para diferenciar o branco do negro? auto-declaração? mas aí fica bem óbvio que gera margem a toda sorte de trapaças: um loiro de olhos azuis chamado Schultz nascido em Blumenau vai querer se declarar negro só para ter pontos a mais no vestibular de medicina..... nesse caso, seria necessário então uma espécie de "comitê" para analisar fotos de candidatos....situação terrível, como se vê, pois voltaremos a classificar seres humanos não como cidadãos, mas como "cores" ou raças".
4- e o negro que sairá da faculdade? hoje, se vc vai a um médico e ele é negro, a primeira tendência é elogiar a conquista pesssoal que foi a de uma pessoa, geralmente pobre, ter estudado e subido na vida, pela sua competência pessoal. Com as cotas, daqui há alguns anos, quando se for a um médico e ele for negro, a tendência será a de automaticamente desconfiar da competência do indivíduo ali, porque ele entrou pelo sistema de cotas, ainda que ele tenha sido um ótimo estudante e um excelente profissional. Ou seja, o produto do sistema de cotas é mais discriminação e ainda pior, porque ela vai perseguir o profissional formado pelo resto da vida.
5-e o branco que perdeu a vaga no vestibular para um negro que tirou nota menor mas entrou na faculdade pública por ser negro? esse indivíduo branco, por mais intelectualizado que seja e que tenha consciência da dificuldade de ascensão social de um negro no Brasil, vai ficar com raiva, porque na sua visão, e há justeza nisso, ele foi preterido só por ser branco. Ou seja, de novo, o sistema de cotas acaba por envenenar a sociedade, criando raízes de ódio racial ainda maiores que temos hoje.

Por tudo isso, acho que o sistema de cotas traz mais problemas que soluções. Ele divide a sociedade artificialmente num Brasil miscigenado, gera ódio racial no longo prazo, discriminação e estigmatização dos negros depois de formados e exclusão ainda maior do branco pobre. O sistema já está sendo abandonado nos EUA, onde nasceu. Então, se é um sistema com tantos defeitos, porque está sendo implantado no Brasil? Simples: ele gera votos para os políticos demagogos que o implantou, no caso o governo do PT, ao mentir dizendo que está resolvendo o racismo no Brasil. Para tornar o acesso a universidade pública democrático, a negros ou não, a pobres ou classe alta, basta tomar o único caminho correto: qualidade na escola pública e não atalhos demagógicos politiqueiros.
Ainda em tempo: todos os líderes negros americanos, incluindo vários intelectuais, sempre foram fortemente contra o sistema de cotas, porque para eles, era uma forma de dizer que eles eram "burros" e não tinham competência para entrar na universidade sem ajuda. Ou seja, por lá, os negros americanos nunca gostaram do sistema, que foi invenção de brancos. Aliás, por aqui, vários líderes de movimentos negros no Brasil também são contra.

Monday, March 17, 2008

Idéia para a educação - parte 1

Interessante a entrevista desta segunda-feira do economista metido a entendido de educação Cláudio Correa e Castro (ele também escreve na Veja). Apesar de algumas idéias dele que acho fraquíssimas, só mesmo quem nunca deu uma aula na vida pra falar o que ele às vezes fala, ele aponta alguns itens muito importantes.
O primeiro: as escolas de periferia são uma porcaria não porque para elas faltem teorias educacionais, professores ultra-competentes ou super-computadores, mas porque falta o básico: paz. Ou seja, não é uma escola, é uma praça de guerra, em suas palavras. Verdade. Não há condição de estudo ainda que mínimo, num lugar onde os "alunos" ameaçam professores, funcionários ou outros alunos com facas e armas de fogo, onde traficantes dizem a que horas as aulas terminam e onde qualquer professor que tente impor alguma disciplina e algum ensino seja ameaçado. Apesar do economista ter apontado o erro, e também o caminho pois é preciso primeiro pacificar a escola, ele esqueceu de dizer o COMO: e isso é simples, expulsar os que não querem estudar. Note que coloquei duas vezes a palavra aluno, uma delas entre aspas. Ora, uma coisa é um aluno pobre, sem nenhuma condição financeira, que precisa ser ajudado até a comprar um lápis. Outra, bem diferente, é um bandido armado que ameaça todo mundo, trafica, usa drogas, rouba e, é claro, nunca estuda. Um dos dogmas centrais da educação de esquerda hoje, praticada tanto por PT como PSDB é que nunca se deve expulsar um aluno da escola. Bobagem, um "aluno" desses deixou de ser aluno há muito tempo, mantê-lo na escola é perda de tempo pra ele e principalmente perda de condições mínimas para os outros alunos, que precisam e querem estudar. O discurso de que "todos devem ter acesso a escola" esconde que hoje, "alunos" são confundidos com alunos, ou seja, bandidos violentos, ou aprendizes de, convivem com alunos pobres que só tem a chance de estudar nestas escolas e é claro, naquelas condições, nunca conseguirão. É pura bobagem imaginar que professores e diretores vão conseguir "converter" bandidos em alunos, versão idealizada e tola de algum filme tipo "Ao mestre com carinho". Se o "aluno" vem para escola armado, isso se chama porte ilegal de arma, tipificado no código penal e pronto. Por que o aluno pobre é obrigado a conviver com bandido dentro da escola? É nojenta a idéia de que expulsar bandido disfarçado de aluno é "exclusão escolar": exclusão é uma escola dominada pela violência, na qual os mais pobres não têm a menor chance de estudar e melhorar de vida, só porque meia dúzia de sociólogos uspianos disse que teria de ser assim. Eles mesmo não iriam dar aulas num 3 Em noturno em Itaquera...
Portanto, contra o dogma central da "inclusão escolar", todos na escola, proponho outra idéia: todos QUE QUEIRAM ESTUDAR na escola. Isso inclui até mesmo os alunos que têm sérias dificuldades de aprendizagem, mas que estejam pelo menos interessados em superá-las. Não há educação sem interesse. E esse interesse tem que vir do aluno. Se o "aluno" é pouca coisa mais que um aprendiz de bandido, definitivamente seu lugar não é a escola, mas a cadeia ou um centro de detenção agrícola. Idéia violenta, agressiva, excludente ? Então tente dar aula numa escola noturna de periferia, aí depois você me diz se concorda ou não.
Depois eu comento a outra questão levantada pelo economista na entrevista: 71% dos concluintes do Ensino Médio não tem conhecimentos básicos de Matemática no Saresp.

Tuesday, March 11, 2008

Valente !

Minha nova religião agora estpa completa com a formação de sua trindade: acima de tudo e todos, Coronel Ubiratan. Em seu lado direito, Capitão Nascimento. E agora, completando a formação, Erica Bain.
E quem é Erica Bain ? É ficctícia, assim como Cap. Nascimento, personagem do ótimo filme "The Brave One", 2007, tradução "Valente". Após ver seu noivo ser brutalmente espancado até a morte e ela ficar em coma por 3 meses por um bando de escrotos no Central Park de Nova Iorque, Erica toma uma decisão: comprar uma arma. A partir daí ocorre uma corrida de gato e rato entre ela, justiceira forçada pela situação e um policial preocupado com as mortes cada vez mais frequentes na cidade. O final surpreende e acima de tudo, me deixou em êxtase. Veja o filme agora, está nas locadoras.
Curiosa diferença entre Brasil e EUA: enquanto por aqui, nossos políticos e intelectuais debatem a criminalidade e a santidade do bandido, por lá não há dúvida: bandido tem que ser preso e ponto. E a reação quando eles morrem em confronto com a policia é bem diferente daqui: ao invés de chorar pelo bandido morto, eles treme de raiva pelas vítimas que o bandido fez. Colonização diferente a deles: por lá, protestantismo, no qual o pecado só é perdoado por Deus e a justiça terrena é a que importa. Por aqui, catolicismo, no qual o pecado está aberto para o perdão e só a justiça divina interessa, pois o ofendido deve sempre perdoar o ofensor. E por fim, por lá, Direitos Humanos: foi o primeiro modelo de país do mundo a aplicar o Iluminismo, antes mesmo que a França, mas eles sabem diferenciar Direitos Humanos de impunidade. Por aqui, "direitos humanos" na versão tropical: você, vítima, não tem direito a nada, mas o bandido é a "vítima de uma sociedade desigual etc...etc...etc...". Precisa perguntar em qual dos dois países eu gostaria de morar?

Monday, March 03, 2008

Exemplo de nada - parte 2

E para continuar a falar de esquerda burra e mitos, o imbecil do Hugo Chávez agora lança suas ofensivas verbais, com direito a mobilização de tanques e tudo, na fronteira da Colômbia. É uma ameaça de guerra. Previsível.
Neste mesmo blog limitado, há uns meses atrás, quando o Chávez perdeu o referendo, eu havia dito que a estratégia clássica de um ditador manter-se no poder é criar um inimigo diabólico imaginário, alimentá-lo, criar uma paranóia de perseguição e manter o povo em permanente estado de suspense, medo, e fazer muitos, intermináveis, discursos. Exatamente o que fez Chávez há vários anos, com seu diabinho preferido, os EUA. Manter o inimigo imaginário sempre vivo era fundamental para dar força ao ditador. Porém, e isso eu mesmo havia falado e não sou nenhum gênio no assunto, uma hora ou outra iria cansar e o ditador iria perder apoio popular. Houve o referendo que deu um sonoro Não a Chávez. Então, o que acontece quando o ditador perde força e seu inimigo imaginário não serve mais? Ele arranja um inimigo real, fabrica uma guerra real, e reforça seu poder. Mas quase sempre, essa guerra acaba com o fim do ditador, que totalmente afastado da realidade, não percebe o suicídio que foi meter seu país numa guerra sem sentido.
Exatamente o que acontece hoje com Chávez, que mobiliza tropas de verdade para uma possível guerra contra a Colômbia. E tinha que ser ela, a Colômbia, pois Chávez é amiguinho do grupo de narco-terroristas disfarçado de guerrilha marxista, as Farc, e vem fazendo muito propaganda para "libertar" reféns, sequestrados, ato máximo de barbárie, por anos seguidos. Chávez está no desespero: sua popularidade cai na Venezuela devido ao racionamento de comida, falta de produtos, imenso desemprego, alta inflação, tudo causado por ele mesmo, em suas delirantes idéias econômicas tiradas de um manual econômico marxista dos anos 20. Ao mesmo tempo, suas bravatas encheram o saco até mesmo de aliados, como Lula e Cristina Kirchener, que o acham, com razão, um demente perigoso e imprevisível. No Brasil, apenas meia dúzia de idiotas esquerdóides, incluindo o aspone de assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, ainda acredita em Chávez e na sua delirante "revolução bolivariana", ou o que quer que isso signifique. Mas essa movimentação de tropas pode ser perigosa: a bravata pode se tornar real. Seria a profecia auto-cumprida de mais um ditador latino-americano: um louco levando seu país ao abismo.