Tuesday, October 03, 2006

Lula e classe média.

Há uma certa histeria anti-Lula no ar. Noto que uma boa parte da classe média paulista tem uma ojeriza visceral a Lula. Por que? Os escândalos de corrupção? Sem dúvida, o governo petelho inovou ao criar esquemas de favorecimento, caixa-dois e compra de votos que ainda não tinham sido descobertos antes. Mas daí dizer que Lula é o pai da corrupção no Brasil, soa estranho. A mesma classe média que ataca Lula, votou antes em governadores tão ou mais geniais que ele, caso de Maluf e Quércia. Interessante também notar que algumas imagens são inventadas e acabam "colando": a imagem que a classe média paulista tem do PSDB é de um partido sério, de homens intelectualizados e competentes, honestos e bons administradores. Como negar que o governo Covas foi um desastre? Como negar que FHC comprou votos para sua reeleição, essa aliás é a fonte das desgraças que hoje vivemos.
Fico me perguntando: por que a classe média paulista odeia tanto Lula? Corrupção? Mas foi ela, classe média, que votou em peso no Fernando, o Collor, contra esse mesmo Lula, mesmo quando antes de ser presidente todo mundo sabia que Collor era, enfim, Collor. A longa e nunca interrompida carreira de Maluf em SP mostra que a ética do "rouba mas faz" é idelogia determinante na classe média paulista. Por que o ódio ao Lula, destilado na Veja, no Estadão, na Folha ?
Economia? Mas a classe média está vivendo melhor que antes. Basta ver as vendas de Vectra, Corolla e Civic...e quando se fala de economia, o desastre dos 8 anos de FHC serão insuperáveis por décadas no Brasil. Verdade seja dita: na área econômica, Lula foi medíocre, mas FHC foi muito pior.
Por que a classe média em SP odeia tanto Lula? Ao comversar com muita gente, percebo um certo "racismo" na visão sobre Lula. O operário que virou presidente, que tem uma primeira dama feia, veste-se como um monstrinho, haçassyna o portugueiz.... é por aí que a classe média vota em SP. Não é a corrupção, pois ela sempre foi, e muito, tolerada no Brasil. Não é a economia, com certeza. É uma coisa que incomoda: saber que um operário burro e messiânico chegou a presidência, invertendo os valores dessa classe média: "nós somos mais que os pobres porque estudamos, trabalhamos duro, pagamos impostos, como um burro desses pode ser o chefe da nação?". A classe média em SP poderia tolerar com grande facilidade escândalos de corrupção num possível governo tucano, desde que o presidente fosse um intelectual como FHC, ou um bom menino como Geraldinho-Pedágio Alckmin. O problema é Lula: ele é feio, ele não estudou, ele não pode ser presidente, senão, nós classe média, existimos em vão: o que será de nós, se os "piores" que nós, nos governam?
Não sei se é uma idéia certa ou errada, é apenas um diagnóstico; há muita irracionalidade na aversão da classe média paulista a Lula. Claro que o próprio Lula, em sua arrogância messiânica, ajudou. Caso tivesse desde o início adotado um discurso mais conciliador, menos povão e mais propenso a vôos intelectuais, teria suavizado sua imagem. O PT sempre teve grande simpatia nos meios artísticos, intelectuais, universitários. Ele poderia ter usado essa interlocução para "chegar" até a classe média, criando não a imagem de líder dos pobres messiânico, mas a de um self-made man brasileiro, alguém que tem o charme adicional de ter vencido na vida. Perdeu essa imagem.
Curioso é que mesmo Lula fazendo TUDO o que os banqueiros queriam, mesmo pagando o FMI, mesmo apagando a imagem de radical e comunista, e pior, mesmo fazendo a economia favorecer a classe média, ela o odeia profundamente. Imagem é tudo na sociedade de espetáculos. E Lula paga o preço de ter escolhido agradar duas platéias, banqueiros e os mais pobres, mas ter esquecido do meio de campo. Pode até perder a eleição por isso.

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