Tuesday, September 26, 2006

Políticos e a Bíblia

Me impressiona quantos políticos apelam a Deus na hora da eleição. Desde a esquerdóide HH, que mistura esquerdismo dos anos 50 com Jesus, até os tradicionais pastores-candidatos, forma moderno do "curral eleitoral"da república oligárquica, talvez rebatizado de "culto eleitoral".
Se me perguntar, digo rápido: CONTRA. Aliás, uma boa proposta seria proibição, sob pena de anulação de candidatura, a simples menção a Deus, Jesus, Xangô, Maomé ou ainda a Bíblia, ou qualquer outro livro de doutrina religiosa. Tem até candidato espírita..... Tudo deveria ser proibido. Talvez a maior herança da Revolução Francesa seja a rígida separação entre Estado e Igreja, ou mais modernamente, Estado e Religião, fruto, como sabemos bem, de inúmeras guerras, atrocidades e imbecilidades pela História. Hoje em dia, vivemos a volta desta praga, e não falo dos países islâmicos, que rejeitam essa tradição laica, mas de países ocidentais, incluindo aí os EUA, que vivem uma onda de fanatismo sem limites, a começar pelo ex-bebum hoje convertido, Bush. Só espero que esse exemplo ruim nós não peguemos: religião é assunto privado, político é debate público. Ou por um acaso dá pra debater e comparar Jesus com Buda?

Friday, September 15, 2006

Bento XVI e o Islão

Pode-se dizer que, se João Paulo II era "pop", Bento XVI é rock and roll...... e do estilo "Metallica"....

Ao invés da voz macia e dos argumentos generosos, politicamente corretos, de João Paulo, Bento XVI prefere mesmo o confronto. Numa palestra na Baviera, sul da Alemanha, ele disse que a religião sem razão leva ao fanatismo: religião deve conter fé e ao mesmo tempo, reflexão intelectual. Até aí, tudo bem. Mas ele foi adiante; sua declaração foi essa:
"Il est important aujourd'hui de dire, avec clarté, en quel Dieu nous croyons et de professer, avec conviction, le visage humain de la religion"
É importante atualmente dizer, com clareza, em qual Deus nós cremos e de professar, com convicção, a face humana da religião"
( desculpe a citação em francês, o Papa falou em alemão, mas é que li no jornal Le Monde)

O difícil é engolir a citação "em qual Deus nós cremos". O Papa, pessoa extremamente culta e sofisticada, sabia perfeitamente o que estava dizendo. Ao reafirmar em sua palavra a idéia de um Deus privilegiado, ao invés de uma idéia de um Deus que abraça todos, mesmo os de religião diferente, Bento XVI afirma categoricamente que o Cristianismo é superior ao Islamismo, já que só naquele poderia existir fé e razão ao mesmo tempo, ao passo que na religião islâmica, prevalece o fanatismo.

Pura bobagem papal.....!!! Durante toda a Idade Média, enquanto mulheres com epilepsia eram queimadas vivas nas fogueiras da Inquisição acusadas de bruxaria, o Islão abrangia uma área que ia da Índia a Espanha, passando por cidades ricas e luxuosas como Meca, Bagdá, Córdoba, Alexandria. Conviviam no Islão judeus, diversas correntes cristãs, budistas. a Ciência medieval islâmica estudava medicina, matemática, lia e traduzia autores gregos, e as mulheres islâmicas tinham assegurada, no Corão, direito de herança e de proteção que o Ocidente cristão só foi começar a pensar no XVIII, durante a Revolução Francesa.

Verdade seja dita: não fosse o Iluminismo, a Europa cristão católica seria muito mais tacanha e fanática que os países islâmicos hoje. Basta ler os livros de Eça de Queiroz e a opinião que ele tinha, já no XIX, da Igreja em Portugal....

A Igreja Católica tem uma herança intelectual e estética belíssima e riquíssima. Mas o Islão também. Seria mais útil para um mundo em constante violência que o Papa afirmasse e elogiasse a parte boa do Islão, ao invés de criticá-lo como se fosse uma coisa só. Bento XVI perdeu uma bela oportunidade de ficar calado.

Wednesday, September 13, 2006

A Carta Testamento de FHC

Terminou o mandato de FHC. E isso lá se vão 4 anos.....Mas pelo jeito, nosso intelectual presidente, pavão absoluto de egolatria, não percebeu; deu-se a publicar cartas, falando mal do atual governo, defendendo a candidatura fracassada de Alckimin, reclamando a seu finado governo realizações importantes. Noves fora o discurso sedutor de quem escreve bem, pensa rápido e é político experiente, a "carta testamento" de FHC, como vem sendo ironicamente chamada ( aliás, ele a publicou em setembro mas não no mês anterior, pois afinal, sabemos que outra carta, essa sim testamento, de Getúlio Vargas, foi publicada em agosto), é bem fraquinha....faz tudo aquilo que o políticos, mesmo os mais toscos estilo "peroba neles" fazem: fala mal do governo atual, defende a sua candidatura, defende o seu governo anterior.

Ele reitera a corrupção do governo Lula e a lisura da gestão e da pessoa de Alckimin. Critica os ministros demitidos de Lula. Mais do que FHC dizer "esqueçam o que escrevi" ele deveria estar imbuído do sentido "esqueçam o que fiz". FHC teve ministros demitidos por escutas telefônicas ilegais, caso das privatizações lideradas pelo ex-ministro Mendonça de Barros, sem falar que seu principal aliado na Câmara dos Deputados era o eterno Antônio Carlos Magalhães. Como alguém pode criticar outro por corrupção com aliados assim, digamos, tão ilustres ? Alguém aí vai esquecer o outdoor da campanha da prefeitura de SP no qual se viam sorridentes FHC e Maluf? FHC também critica a compra de votos do mensalão. Curioso, pois todos sabem que na gestão memorável de Sérgio Motta, idolatrado por membros do PSDB, houve ativa compra de votos para a reeleição, aliás com preços bem definidos: 200 mil reais na época, por deputados do Acre.
Sem falar no próprio vício da reeleição, coisa que nem os oligarcas da Primeira República ousaram fazer.

FHC defende as suas privatizações como necessárias ao país. Interessante. Alguém aí está satisfeito com os serviços da Telefonica? Ou com os aumentos lineares acima da inflação nas contas de luz, gás encanado, pedágios ? Alguém aí esquece que FHC privatizou monopólios estatais, com tarifas indexadas, quando os salários sofriam a livre concorrência do mercado e do desemprego?

FHC aproveita até mesmo o PCC para atacar a incompetência de Lula na gestão da segurança e a falta de propostas de mudanças em leis penais. E elogia ao dizer que na gestão Alckimin prende-se mais bandidos do que nunca. Curiosa crítica essa a Lula, pois se ele, Lula nada fez em 4 anos de governo para mudar a Constituição ou a Lei Penal, ( verdade aliás) ele FHC, que tanto mudou a Constituição na área econômica, fez menos ainda. E FHC ficou 8 anos. Isso sem falar que elogiar a gestão Alckimin na segurança chega a ser hilário, não fosse trágico: o PCC surgiu, cresceu e atacou durante o reinado desastroso de Covas-Alckimin em SP. E repito, com 8 anos de FHC na área federal.

FHC elogia a gestão educacional de seu governo. Seria então a maravilhosa marca de 97% de crianças na escola sem aprender a ler ? Todos sabemos, nós professores, que Paulo Renato criou o atual sistema escolar : todos na escola, aprender fica pra depois. Isso sem falar nas faculdades privadas que brotaram da terra durante a gestão tucana. Ou do inesquecível ex-secretino da heducassão de SP, Chalita e Cia. Limitada, dando beijinhos em alunos. Patético.

FHC defende o voto distrital misto, usado na Alemanha e criticado por lá. Coisa de intelectual uspiano. E por fim, reclama ao PSDB o papel de salvador da consciência nacional contra os malvados petistas.

Todos riram da carta de FHC. Até mesmo os tucanos. Cláudio Lembo, numa tirada genial, chamou-a de "coisa de velho". Diria eu, é carta-testamento. Sabemos que, a cada diz que passa, mesmo entre seus partidários, fica evidente a herança negativa dos 8 longos anos de noite fernandina no governo. Fica uma coisa positiva: o controle da inflação. O resto é desgraça: aumento brutal da dívida pública, aumento da carga tributária ( de 25% para 35% do PIb e ainda criticam Lula que aumentou impostos....para 37% do Pib), o massacre das privatizações que fizeram explodir as tarifas, o fracasso da paralisia da economia que cresceu 2% ao ano em média, o câmbio valorizado que matou as exportações, o desemprego agressivo, o apagão, o sucateamento das universidades públicas, o rebaixamento do padrão educacional geral do país, a diminuição sistemática da renda dos trabalhadores e da classe média.
FHC acabou. Ainda bem para todos nós. Existe aposentadoria para pavão?

Monday, September 04, 2006

Tabus eleitorais - Reforma educacional

Se dependesse dos candidatos, o Brasil teria um modelo educacional sueco. Todos, sem exceção, falam que educação é prioridade. Até o Maluf, ele mesmo, diz que uma sala de aula aberta é uma prisão fechada.....Pois é, eu discordo: acredito nos dois, nas escolas e nas prisões.... depende em qual dos dois o merdinha quer ficar.....
Para melhorar a educação no Brasil basta uma palavra: repetência. O governo FHC na gestão do Sinistro da Educação Paulo "Exterminador" Renato e no governo tucano do Covas aboliram por decreto a repetência, vista como a "saúva" da educação: ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil....pois é, o fim da repetência por decreto acabou com o Brasil. Temos hoje, passados 12 anos dessa política educacional, o resultado: essa é a pior geração de estudantes desde que Cabral trouxe a escrita para cá. Os meus próprios alunos concordam! É e será uma geração de imprestáveis e imbecis, que têm ódio a cultura, a inteligência e ao esforço.
Tudo começou com a teorias destruidoras de Paulo Freire ( em outro blog eu comento desse idiota), mas o ponto orgasmático foi a gestão Paulo Renato. Todo mundo na escola, 101% de estudantes na escola!!! afinal, precisamos desses números para o BID emprestar dinheiro.
O resultado está aí: tem de tudo na escola pública hoje, menos alunos. Entenda-se aluno aquele indivíduo que quer aprender. Criamos a fantasia de "Ao Mestre com Carinho": TODOS os problemas sociais a gente joga na escola que ela resolve. É essa a visão de escola que temos que mudar se quisermos ter algum futuro.
Minha proposta é simples: escola não é educação, não é cidadania abstrata, não é espaço para a criatividade de ninguém muito menos lugar do "lúdico" ; escola é informação, conteúdo e esforço. Para voltarmos a ter uma escola realmente democrática, bastam 3 coisas: três exames eliminatórios, nas quartas e oitavas séries do fundamental e no terceiro do médio. Quem não passar no exame, não entra na série seguinte. O exame seria nacional, diferenciado em termos regionais, mas obrigatório e eliminatório, mas não necessariamente, classificatório. Ou seja, não é um exam vestibular, onde necessariamente alguém vai ficar de fora. Se o aluno conseguisse uma determinada pontuação, seria promovido. Todos poderiam ser alíás, basta estudar. Um exame cria algo que a educação paulofreiriana esqueceu: caráter, esforço, trabalho, dedicação. Hoje um bosta sabe que passa de ano. Que motivação tem o bom aluno em se esforçar ?
Refroma educacional com exames nacionais eliminatórios: um bom tabu eleitoral.