Tuesday, April 25, 2006

A tentativa de um novo herói

A oposição tucanalha está P. da vida com o astronauta brasileiro. Diz ela que foi um mero plano eleitoral de Lula. Ok, ok.....na visão tosca dos tucanos e de seus meios oficiais na imprensa ( Veja e Estadão) TUDO de ruim em toda a História da Humanidade é culpa do Lula...
O programa espacial brasileiro tem quase 30 anos. A viagem de um brasileiro a Estação Espacial Internacional vem sendo debatida há uns 10 ou 12 anos. Ocorreu no governo Lula. Podia ter ocorrido em outro governo, menos no de FHC, que como sabemos, fez tudo o possível para diminuir "gastos" em áreas "supérfluas" ao país, como tecnologia, educação e saúde pública. Grão maior mestre dos Tucanos ! Como sentiremos saudades de seu governo obtuso e menor !

Foi bom o brasileiro ter ido ao espaço ? Não sei. Não tenho condições técnicas e científicas de analisar experimentos de 10 milhões de reais ( calma, minha dissertação de mestrado não custou nem um décimo disso, aliás, nem um décimo de décimo disso....). Mas uma coisa pode e deve ser avaliada : a tentativa de se criar um herói brasileiro; o primeiro astronauta.
Pode parecer bobagem, e os tucanos, insistem que é, mas acho que não. Todo país precisa de heróis, e eles são a "cara", pelo menos oficial, do pais. Os americanos fabricam heróis, os franceses tem sua galeria de heróis contraditórios, que vão desde Napoleão até o Marques de Sade....os alemães cultivam seus heróis e seus anti-heróis, como exemplos do que eles devem e não devem ser.
E nós ? Como sentimento de coletividade, temos nulo espaço para nós mesmos. Como os tucanos são ultra-liberais ensandecidos, qualquer coisa que lembre "Estado" ou "Nação" é odiosa a eles: FHC é o perfeito anti-herói brasileiro. Intelectual de fino trato, globalizado, tão distante do povo quanto possível, discursando no parlamento francês...."Vive La France!".
Lula é povão, churrasco na laje e pelada no campinho. Meio boçal, vc diria, mas afinal, somos todos brasileiros boçais.( dúvida ? espere até a Copa....).
Então, a tentativa de criar um herói brasileiro só partiria de um governo que afinal lembra que existe um povo brasileiro.....burro, pobre e fodido, mas tá lá....

Gosto de um astronauto brasileiro. Nossos heróis hoje em dia são jogadores de futebol semi-letrados milionários ou traficantes semi-milionários iletrados de tudo. Criar um herói que afinal tem cara de homem comum, que estudou em escola pública, fez doutorado e foi ao espaço, é um puta avanço. E não deixa de ser irônico: um herói que estuda, homem de ciência, justo no governo do operário sem dedo... Realmente, os tucanos devem estar se remoendo de raiva.

Tuesday, April 11, 2006

O Fantasma de volta ou o Ser Dialético ?

A revista The Economist acaba de publicar uma reportagem sobre a governança na América Latina na qual se derrama em elogios ao ex- presidente Fernando Henrique. Elogia não só seu governo, mas igualmente sua postura pessoal, de intelectual e de presidente sério cujo governo é marcado pela racionalidade das palavras e pela previsibilidade de ações. Não hesita em dizer que Fernando Henrique foi o melhor presidente que a região já teve. Ao mesmo tempo, a revista insinua que Lula é um populista, um animador de auditório, cujos discursos sem pé nem cabeça só são ouvidos pelas multidões famintas e irracionais. Conclui a reportagem dizendo que o populismo, no qual governantes que prometem o paraíso terrestre lideram massas famintas contra a racionalidade dos mercados e dos agentes econômicos, está voltando à região, tal qual um fantasma que nunca morre.
Economist deve ser a melhor revista do mundo. Tem profundidade de análise comparável a teses acadêmicas e seu inglês britânico é impecável. É também uma revista militantemente liberal no sentido econômico da palavra: adepta pura da não intervenção do Estado na economia, do livro fluxo de capitais e da iniciativa burguesa e privada como motor da riqueza.
Como analisar sua reportagem ? Estariam eles certos ? Agora que outro populista está quase prestes a ganhar a presidência do Peru, Humala Olanta, somando-se a Chávez, Morales, Kirchner e o próprio Lula, estaria The Economist realmente chamando nossa atenção para a volta do fantasma do populismo ? Lìderes demagógicos chamando as massas famintas e irracionais, nacionalizando empresas, afrontando o mercado, destruindo a base econômica da região ?
Seria então a luta do Bem, expresso pelas palavras doces e bem pensadas de um Fernando Henrique, de um Pedro Malan, mesmo de um Palocci, contra as frases de concordância nominal doentia de um Lula ou as afrontas anti-americanas de um Chávez ?
Não faltarão idiotas puxa-sacos para concordar com essa visão fácil das coisas, como o cineasta que se pensa jornalista Arnaldo Jabor. Mas a coisa é outra, o buraco é mais embaixo.
O populismo não é um fantasma que se cria do nada, mas ao contrário, é filho do liberalismo "racional" que se diz seu contraponto. Ao invés de imaginar Lula como o Anti-FHC ou vice versa, eles são caras da mesma moeda. Trata-se de uma dialética histórica, não de uma linha evolutiva inversa, de um pretenso e "primitivo" populismo para uma racionalidade liberal.

Veja o caso do Brasil :
Se FHc não tivesse exterminado os empregos como fez, se não tivesse diminuído a renda dos trabalhadores como fez, se não tivesse fodido a classe média como fez com impostos e desemprego, se não tivesse fodido todo o país, entregando serviços estatais a monopólios privados de rapinagem, teria sido eleito Lula ? Em outras palavras, The Economist comete um erro clássico na análise histórica da governança da América Latina: FHC foi o melhor presidente que já existiu em nossa região.....faltou acrescentar a pergunta: PARA QUEM ? Para os bancos, para alguns grupos privados, para alguns grupos multinacionais, para as empresas privatizadas: enfim, para o grande capital. Para a classe média, para a classe trabalhadora, para os milhões de subempregados, para as micro e pequenas empresas, para os setores mais tradicionais exportadores da economia, ( antigos, mas não ilegítimos, como calçados e brinquedos) FHC foi pior do que o inferno: para esses, juros, desemprego, aumento de impostos, real valorizado explodindo exportação. Foi a reação desses setores, fartos do liberalismo "racional" tucano que elegeu Lula. ( se Lula agradou ou não a esses setores, falemos depois...)
O mesmo se diz da Argentina que teve sua economia arruinada pelos 8 anos de ultra liberalismo de um idiota carnavalesco como foi Ménem ( aliás, outro que chegou a ter elogios formais do FMI antes de se descobrir que era um criminoso...). Muito fácil hoje dizer que Kirchner é um caloteiro que não paga os credores: se vc estivesse na fila de desemprego de Buenos Aires no governo Menem, e agora está conseguindo comer 3 vezes por dia com seu salário no governo Kirchner, provavelmente vc vai preferir o "caloteiro".
Imaginar que o populismo é uma praga que nunca morre, contra um liberalismo racional que tenta se impor é negar o óbvio : o liberalismo na América Latina cria as massas desempregadas e desesperadas que vão se apegar ao primeiro discurso populista que encontram pela frente, e se apegam ainda mais se o líder populista lhes dá o que falta, emprego ou comida. O populismo é o ser dialético exato do liberalismo triunfante mas depois declinante. Foi a crise financeira venezuelana qu criou Chávez. Foi a Bolívia indígena que teve sua água privatizada que elegeu Morales. Foi Ménem que fe Kirchner. Foi o Peru liberal de Olviedo e seus 65% de miséria que fez Omala. Enfim foi sua conta de telefone privatizada que fez Lula. Muito fácil falar mal do populismo quando se tem banho tomado, comida posta e emprego amanhã de manhã. Quando não se tem isso, o desespero bate, e o "irracional" , seu estômago, toma o lugar do cérebro.
Como superar essa dialética perversa : liberalismo que cria miséria que cria populismo que alimenta esperança de famintos, essa a pergunta crucial da América Latina, não o sorriso cínico de um ex-marxista intelectual agora convertido a Adam Smith como foi Fernado Henrique.

Se vc achou o post longo e difícil, foda-se. Vai ler as merdas do Jabor.

Tuesday, April 04, 2006

Drogas para todo mundo

A cada dia que passa fica mais evidente o fracasso total da política anti-drogas mundial, baseada principalmente na criminalização do tráfico e na proibição do consumo.
Desde a década de 50 do século XX, quando as drogas foram proibidas, o consumo mundial explodiu. Indústria poderosa que movimenta bilhões por ano, a demanda de drogas aumentou drasticamente após sua proibição, principalmente nos anos 60 e 70, motivada pela famosa ( e já velha) tríade, sexo-drogas-rock an roll. Na prática, a proibição feita nos anos 50 serviu exatamente para glamourizar as drogas na década seguinte, vistas como indício da rebeldia juvenil contra a geração anterior. Toda uma geração iniciou sua vida adulta usando drogas.
Como a demanda só aumentou nas décadas anteriores, a produção seguiu a demanda e é claro, o comércio também. Mas o comércio é proibido....então, junto das drogas vieram as gangues e as armas para dar segurança a um comércio proibido e altamente lucrativo.
Está pronto o coquetel que explodiu nos anos 80 e 90 e ainda hoje, nas grandes cidades mundiais.
O que fazer ?
A resposta simples e lógica é: liberar o consumo e o tráfico. O consumo na prática, já é liberado. Mesmo "proibido", qualquer um hoje pode comprar a droga que quiser, na hora que quiser. A própria lei vai seguindo essa lógica, já que o consumo ocasional hoje não é mais considerado crime.
O próximo passo é legalizar o comércio. Uma boa alternativa seria o próprio Estado produzir a droga e distribui-la gratuitamente, a quem quisesse, sem nenhum tipo de exigência. Assim, os "viciados" ou os ocasionais não precisariam comprar dos traficantes. Estes, sem poder vender pois ninguém aguenta concorrer com quem dá o produto de graça, iriam "quebrar", podando de uma vez com todas com o comércio de armas e desarticulando o crime. A polícia poderia ser liberada para o que realmente importa, crimes contra a vida e a propriedade, aumentando sua eficiência.
Numa segunda etapa, as drogas poderiam ser vendidas e seus impostos repassados ao Estado. Os viciados poderiam, se quisessem, ter tratamento. Se não o quiserem, tudo bem. Quem usa drogas não faz mal nenhum a ninguém, a não ser a si mesmo. O tráfico armado é que é o problema, mas com a liberalização, ele deixa de existir, substituído pelo Estado fornecedor gratuito.
Nos anos 30 a cocaína era totalmente liberada. Era inclusive usada como medicamento, basicamente analgésio. Freud a usava regularmente, asssim como quase todos os modernistas brasileiros ( lembra de Manuel Bandeira e seu "Vou me embora pra Pasárgada": "lá tem alcalóide a vontade..."). Apesar do uso, não havia criminalidade, o que prova de uma vez por todas a tese de que a proibição fez explodir o tráfico ilegal. O mesmo vale para a Lei Seca dos anos 40 nos EUA. Proibir o alcool só fez a criminalidade aumentar.
Então porque continuar proibindo o tráfico de drogas ? Alguns motivos:
1-muito dinheiro vai para o combate ao tráfico, enormes estruturas burocráticas foram criadas contra as drogas, portanto, liberar tudo seria acabar com muitas dessas estruturas, tanto financeiras, quanto de poder.
2-os EUA não querem. Como eles mandam no mundo, o país que liberar o tráfico seria serevamente excluido do circuito internacional talvez até atacado militarmente. A mentalidade puritana e ultra conservadora americana, a mesma que não aceita Darwin e quer que a AIDS seja "combatida" com abstinência sexual não aceita o uso de drogas. Nos mesmos EUA, em alguns estados, o homossexualismo por exemplo, é crime. O que fazer quando uma merda dessas é a potência mundial ? Há vida em Marte ?
3-pode ser "viagem" minha, mas acho que há outros motivos econômicos pelos EUA. Como quem produz droga são os países latino americanos e quem consome são Europa e EUA, legalizar o tráfico é legalizar um grande fluxo de dinheiro que ficaria na mão dos países latinos. Isso não é bom para eles, países ricos, que preferem ver nossos governos torrando dinheiro na repressão inútil e não usando o dinheiro do tráfico legalizado para investir em indústrias e tecnologia.
4- os próprios traficantes, é claro, que sabem que a "proibição" não pega para eles, pois continuam vendendo caro o que tem alta demanda e perderiam tudo caso o Estado assumisse o tráfico.

Antes que perguntem: não postei esse blog porque sou usuário, aliás acho que quem fuma muita maconha fica burro ( tenho vários exemplos conhecidos): estou apenas de saco cheio de tanta criminalidade por motivo burro. Se vc quer usar drogas, foda-se com elas, eu é que não quero pagar imposto para combater o comércio ilegal de um vício individual.