Wednesday, June 24, 2009

Acabou a exigência do diploma, mas as faculdades não.

Acabou o diploma de jornalismo, isso por decisão do STF, mas acabaram as faculdades de jornalismo?

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que o curso de jornalismo foi criado no regime militar para afastar, ou tentar, o "pessoal de Humanas" das redações dos jornais. Naquela época dura, cursos como de História, Filosofia, Letras, Ciências Sociais formavam a maioria das cabeças pensantes do país e eram elas que infestavam as redações dos jornais mais importantes, tirando o sono dos líderes do regime, já que boa parte delas eram de esquerda ou no mínimo, críticas ao sistema político vigente. Separar de vez "as Humanas" do jornalismo seria a solução para criar redações mais dóceis ao governo.
Se deu ou não certo é pouco provável, até porque o regime simplesmente metia na cadeia, exilava ou às vezes matava mesmo quem fosse oposição mais intensa. Mas a herança ficou: o curso de jornalismo tornou-se obrigatório.
E agora, que a necessidade de diploma ficou pra trás? O que fazer?
Por um lado, cursos como o de História voltam a ter interesse não só para a formação de professores mas igualmente na formação de jornalistas. Eu mesmo via na minha faculdade vários jornalistas em graduação também fazendo História, pois eles sabiam que a sua faculdade não lhes dava base teória suficiente para seu exercício profissional futuro. É fato que a formação jornalística é "genérica" demais. Há até uma piadinha no meio que diz que o jornalista é como um pato: anda, voa e nada. Mas anda desajeitado, voa baixo e nada muito mal. Um jornalista pode escrever amanhã sobre gripe suína (biologia), depois de amanhã sobre terremoto ( geografia) e na próxima semana sobre economia. Ele tem base mínima para escrever sobre esses assuntos? Há agora a oportunidade de jornais, eletrônicos ou tradicionais, voltarem a contratar historiadores, biólogos, economistas, geógrafos.... É melhor um geógrafo falando de um terremoto do que um jornalista que mal sabe, e não é culpa dele, o que é uma placa tectônica...(eu mesmo não sei o que é essa porra...)
Por outro lado, a mídia hoje evoluiu muito e há sofisticadas tecnologias de comunicação. Um historiador pode escrever muito bem, mas ele sabe manejar uma ilha de edição? Ou como se faz uma pauta do dia? Talvez alguma formação em jornalismo no nível de uma graduação tecnológica, algo como 3 anos ou menos, possa dar àqueles que querem entrar na área formação prática mínima para operar meios de comunicação mais sofisticados que uma simples máquina de escrever, que era basicamente um jornal na época do regime militar. Portanto, uma saída para os curso de jornalismo seria investir na sua área de formação prática, deixando a formação teórica do jornalismo aos cursos das tradicionais áreas de conhecimento, da História a Economia, da Geografia a Filosofia.
Há outra ótima formação jornalística: voltada para a área de comunicação empresarial, as assessorias de imprensa. Elas mesmo têm empregado a maioria dos jornalistas formados atualmente. Nesses cursos, o jornalista tem uma formação prática e teórica, mas voltada a um objetivo mais específico. Bem melhor do que o jornalista genérico que se pretende um humanista, mas não tem carga de leitura suficiente para tanto.
Fico com a opinião do blogueiro do Estadão, Marcos Guterman, que (deliciosamente devo dizer), colocou que "um semestre na História tem uma bibliografia básica mais externsa do que quatro anos de jornalismo, de longe". ( vejo o post em http://blog.estadao.com.br/blog/guterman/?title=title_593&more=1&c=1&tb=1&pb=1)
Ele mesmo é formado em jornalismo... e em História na USP.

Thursday, June 18, 2009

Bac e Enem : o exemplo francês


Tirei este texto do blog do Noblat. Ele fala do BAC, misto de vestibular e enem, exame nacional que "carimba" ( ou não...) a conclusão do ensino secundário na França. Fala-se tanto no Brasil em educação de qualidade: simples receita francesa, não há qualidade sem exame, e não há exame sem esforço e ocasionalmente, reprovação. Enquanto ficarmos na lenga-legna paulofreiriana de uma "educação para todos", teremos apenas o que temos hoje, uma "educação ruim para todos". E veja que interessante: justo na França, um dos países onde a psicologia é mais levada a sério, um dos países nos quais o conceito de igualdade social é mais enraizado, mesmo lá, eles não abrem mão de uma exame seletivo altamente qualificado. Para os pseudopedagogos de plantão que acham a "aprovação automática" o regime ideal, vale a pena visitar a França....



Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant (www.le-croissant.blogspot.com)

São os adolescentes que estão à prova, mas a sociedade francesa inteira parece se estressar em conjunto. Começa hoje na França a edição 2009 do temido bac, ou baccalauréat, o vestibular francês. Mais de 620 mil jovens estão inscritos para a prova do último ano, que equivale a um primeiro grau universitário e abre as portas de algumas universidades. Quem já passou pela experiência de um vestibular sabe o que significa a pressão. Mas por aqui, acreditem, é pior.

O nível acadêmico da prova não é coisa para amadores. A primeira prova, obrigatória para todos os alunos, é de filosofia. Matemática, francês, informática, literatura e metodologia científica são assuntos mais ou menos comuns a todas as carreiras entre as quais o aluno pode optar. Algumas provas, mais específicas, compreendem noções de engenharia, economia, direito, psicopatologias humanas – isso tudo, bem entendido, antes de entrar na universidade.

Claro que o ensino secundário daqui é – mais em umas escolas, menos em outras – compatível com a exigência da prova. Mas a cobrança, a pressão e o stress também acompanham o mesmo nível. O fracasso no bac significa, na maior parte dos casos, repetir o último ano do secundário para ter direito a refazer a prova. O que costuma representar, na prática, a desistência do ensino superior.

Nada grave nisso, que os franceses resolveram muito melhor do que nós o preconceito contra o trabalho técnico – mesmo salarialmente, o trabalho de nível médio por aqui não é tão menos interessante que aquele garantido por um diploma. Acontece que mesmo para as carreiras técnicas há um bac específico. O que significa que o fracasso na prova priva o estudante até mesmo de um trabalho técnico mais qualificado.

Resultado: não é raro os franceses relacionarem este momento da vida escolar ao mais declarado desespero. Esta semana, os jornais estampam a notícia de três jovens de Argenteuil que estão em prisão preventiva pela tentativa de roubo das provas do bac na última sexta-feira. Coisa de quem vê série policial demais: dois amigos vigiavam a porta enquanto um outro pulava a janela. Pegos em flagrante, poderão fazer a prova, sem a garantia de que terão o diploma validado em caso de sucesso.

A imprensa também noticia uma associação criada há pouco tempo para dar apoio aos jovens que são acometidos do que se convencionou chamar de “pânico escolar”: tamanha a pressão por resultados, jovens passaram a desenvolver um medo incontrolável de ir à escola. Alguns se isolam, outros ficam agressivos. Uma grande parte apresenta sintomas de stress de gente grande, como problemas gástricos, palpitações. Isso, às vezes, aos doze, treze anos.

Confesso que um dos aspectos que mais me animaram a vir morar em Paris era a idéia de oferecer uma educação de alto nível para os meus filhos. Ver aquelas crianças tão novinhas tocando violino ou jogando tênis me parecia bacana demais. Continuo admirada com a qualidade da educação, mas toda essa pressão me assusta um pouco. Não vou nunca me acostumar à expressão “fracasso escolar” que eles carimbam implacavelmente nas crianças em caso de repetência – muito menos porque as estatísticas deste “fracasso” levam em conta até os pequenos do CP: meninos e meninas de seis ou sete anos com dificuldades nas primeiras palavrinhas.