Thursday, June 18, 2009

Bac e Enem : o exemplo francês


Tirei este texto do blog do Noblat. Ele fala do BAC, misto de vestibular e enem, exame nacional que "carimba" ( ou não...) a conclusão do ensino secundário na França. Fala-se tanto no Brasil em educação de qualidade: simples receita francesa, não há qualidade sem exame, e não há exame sem esforço e ocasionalmente, reprovação. Enquanto ficarmos na lenga-legna paulofreiriana de uma "educação para todos", teremos apenas o que temos hoje, uma "educação ruim para todos". E veja que interessante: justo na França, um dos países onde a psicologia é mais levada a sério, um dos países nos quais o conceito de igualdade social é mais enraizado, mesmo lá, eles não abrem mão de uma exame seletivo altamente qualificado. Para os pseudopedagogos de plantão que acham a "aprovação automática" o regime ideal, vale a pena visitar a França....



Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant (www.le-croissant.blogspot.com)

São os adolescentes que estão à prova, mas a sociedade francesa inteira parece se estressar em conjunto. Começa hoje na França a edição 2009 do temido bac, ou baccalauréat, o vestibular francês. Mais de 620 mil jovens estão inscritos para a prova do último ano, que equivale a um primeiro grau universitário e abre as portas de algumas universidades. Quem já passou pela experiência de um vestibular sabe o que significa a pressão. Mas por aqui, acreditem, é pior.

O nível acadêmico da prova não é coisa para amadores. A primeira prova, obrigatória para todos os alunos, é de filosofia. Matemática, francês, informática, literatura e metodologia científica são assuntos mais ou menos comuns a todas as carreiras entre as quais o aluno pode optar. Algumas provas, mais específicas, compreendem noções de engenharia, economia, direito, psicopatologias humanas – isso tudo, bem entendido, antes de entrar na universidade.

Claro que o ensino secundário daqui é – mais em umas escolas, menos em outras – compatível com a exigência da prova. Mas a cobrança, a pressão e o stress também acompanham o mesmo nível. O fracasso no bac significa, na maior parte dos casos, repetir o último ano do secundário para ter direito a refazer a prova. O que costuma representar, na prática, a desistência do ensino superior.

Nada grave nisso, que os franceses resolveram muito melhor do que nós o preconceito contra o trabalho técnico – mesmo salarialmente, o trabalho de nível médio por aqui não é tão menos interessante que aquele garantido por um diploma. Acontece que mesmo para as carreiras técnicas há um bac específico. O que significa que o fracasso na prova priva o estudante até mesmo de um trabalho técnico mais qualificado.

Resultado: não é raro os franceses relacionarem este momento da vida escolar ao mais declarado desespero. Esta semana, os jornais estampam a notícia de três jovens de Argenteuil que estão em prisão preventiva pela tentativa de roubo das provas do bac na última sexta-feira. Coisa de quem vê série policial demais: dois amigos vigiavam a porta enquanto um outro pulava a janela. Pegos em flagrante, poderão fazer a prova, sem a garantia de que terão o diploma validado em caso de sucesso.

A imprensa também noticia uma associação criada há pouco tempo para dar apoio aos jovens que são acometidos do que se convencionou chamar de “pânico escolar”: tamanha a pressão por resultados, jovens passaram a desenvolver um medo incontrolável de ir à escola. Alguns se isolam, outros ficam agressivos. Uma grande parte apresenta sintomas de stress de gente grande, como problemas gástricos, palpitações. Isso, às vezes, aos doze, treze anos.

Confesso que um dos aspectos que mais me animaram a vir morar em Paris era a idéia de oferecer uma educação de alto nível para os meus filhos. Ver aquelas crianças tão novinhas tocando violino ou jogando tênis me parecia bacana demais. Continuo admirada com a qualidade da educação, mas toda essa pressão me assusta um pouco. Não vou nunca me acostumar à expressão “fracasso escolar” que eles carimbam implacavelmente nas crianças em caso de repetência – muito menos porque as estatísticas deste “fracasso” levam em conta até os pequenos do CP: meninos e meninas de seis ou sete anos com dificuldades nas primeiras palavrinhas.

3 Comments:

Blogger Unknown said...

Professor, é a Flávia da turma de RI da noite.
Desculpe, mas não conseguirei ir amanha cedo na prova, então, farei a noite mesmo...espero que vc veja isso antes, pq acredito que vc não veja seu email da esamc e eu não tinha outro ....
desculpa de novo....

Flávia

6:59 PM  
Blogger Inconnue said...

Só uma coisinha... Sou professora em uma escola francesa e a "aprovação automática" virou regra na França. O Bac quase todos têm, o problema é que alguns alunos vão mal e ficam sem "mention". Quanto à aprovação, concluiu-se que de nada vale ficar com o aluno pois ele não vai aprender no ano de redoublement, mas ao longo da escolaridade. Reter um aluno só cria a falta de estímulo e afasta-o da escola.

5:07 PM  
Blogger Unknown said...

Olá, eu gostaria de saber se é possível um estudante brasileiro que fez todo o ensino fundamental e médio no Brasil, fazer o BAC na França.

Obrigada,


Isabella.

11:32 AM  

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