Monday, March 30, 2009

E por falar em Papa...

Nem sempre concordo com ele, mas não dá pra negar que Leonardo Boff é um pensador de respeito. Um dos pilares da Teologia da Libertação, hoje por ele superada em um novo tipo de pensamento, que une intensidade espiritual, consciência ecológica e consciência social. Vale a pena ler e meditar:
Detalhe interessante: o atual Papa, o mesmo que falou contra as camisinhas na África, quando era cardeal responsável pela Congregação para a Fé, nome moderno do antigo Tribunal da Inquisição, foi o cara de processou o então clérigo Boff, obrigando-o a não mais falar em público.



Texto de Leonardo Boff
Alguém que está comprometido com o pensamento originário e que se preocupa com o destino da humanidade e de nossa Casa Comum, deve ter a coragem de dizer: não adiantam apenas controles e regulações dos capitais financeiros e dos mercados para sairmos da crise como quer a tendência dominante. São panacéias que não afetam a raiz do caos atual. Querem fazer economia de mudanças radicais. Feitas elas nos livrariam de uma tragédia global. Preferem alimentar e vender ilusões de que, dentro de pouco tempo, tudo vai voltar ao normal. Mas como querem, não vai.

O fato é que o sistema e a cultura do capital não dão mais conta da condução da vida social da humanidade. As muitas crises são expressões de uma única crise: a crise espiritual. Não se há de identificar o espiritual com as religiões e as Igrejas. Ao contrario, a partir do espiritual devemos criticá-las, especialmente, a Igreja Católica, que sob o atual Papa, vive aterradora crise espiritual. Basta considerar a falta de compaixão que o Papa demonstrou na sua recente viagem à Africa, a propósito da AIDS que em alguns paises é uma verdadeira devastação.

Quando falo de espiritualidade penso num novo sentido de ser, num novo sonho coletivo, urdido de valores infinitos como a cooperação, a solidariedade, o respeito a cada ser, o cuidado para com toda a vida, a harmonia com natureza, o amor à Mãe Terra e pluralidade das expressões do Sagrado.

Uma sociedade e uma economia só serão sustentáveis quando seus lideres e seus cidadãos são movidos por valores e princípios que respondem aos desafios da crise, pouco importando as dificuldades exigidas. São assumidos com coragem porque é uma exigência deste momento histórico e não por interesses daqueles filisteus de Wall Street que nos induziram ao erro. Estes toleram, com resistências, controles desde que não prejudiquem a dinâmica do mercado livre e a lógica da acumulação. Querem o mesmo apenas mais seguro.

Valores novos e exemplos seminais são os que verdadeiramente convencem. Refiro o exemplo de um empresário japonês, Yazaki, contado pela física quântica Danah Zohar, num precioso livro que aconselharia aos empresários a lê-lo “A Inteligência Espiritual” (Record 2002).

Yazaki herdou uma pequena empresa de mala direta. Expandiu-se pelo mundo inteiro. Conseguiu tudo o que queria: sucesso, riqueza, respeito da comunidade e uma família integrada. Mas sentia que algo lhe faltava. Corroia-o grande vazio interior. Sugeriam-lhe que frequentasse um mosteiro zen. Passou lá uma semana em meditação com um mestre respeitado. Encontrou-se com seu eu profundo e a conexão que ele mantém com o todo. Deu-se conta de que os bens materiais se mostravam ilusórios porque não o preenchiam, apenas lhe davam satisfação material.

Saiu do mosteiro com um outro olhar. Começou a perceber a beleza de uma cerejeira em flor e a singeleza de um caqui maduro. Em sua auto-biografia escreveu:”Os seres humanos separaram o eu do mundo, a natureza da humanidade e o eu pessoal dos outros eus. Por isso caíram na armadilha das ilusões no esforço de preencher o eu vazio. E se fizeram vítimas fatais de um aterrador cenário de autoengano, de hipocrisia e de farisaísmo”.

A experiência espiritual não o levou a abandonar o negócio. Deu-lhe um outro sentido. Trocou o nome da empresa, chamando-a de “Felicíssimo”, combinação de “feliz” das línguas latinas. A acumulação devia destinar-se a aumentar a felicidade humana, dele e a dos outros. Esteve na Rio-92 para inteirar-se dos problemas ambientais. Destinou grande parte de sua fortuna a fundações que cuidam da educação e do ambiente. Termina seu livro dizendo: “servir nesse nível é servir a Deus”. Com ele, a crise foi superada e a humanidade deu um pequeno salto na direção daquilo que deve ser.

Tuesday, March 17, 2009

Horripilante - parte 2

O que leva um Papa a dizer que preservativos não resolvem o problema da AIDS na África, um continente devastado pela doença?
E o que ele quer dizer com "despertar humano" ? E o que ele quer dizer que distribuir preservativos "aumenta o problema" da AIDS ?

Sem comentários.



texto BBC-Brasil
O papa Bento 16 afirmou nesta terça-feira, a bordo do avião que o levava para sua primeira viagem como pontífice à África, que a distribuição de preservativos não é a solução na luta contra o vírus HIV e a Aids no continente.

"Não se pode resolver isso com a distribuição de preservativos", disse o papa a jornalistas a bordo do voo fretado da Alitalia rumo a Iaundê, capital de Camarões, onde iniciará sua viagem de sete dias pela África. "Pelo contrário, apenas aumenta o problema".

Bento 16 acrescentou que a Aids é "uma tragédia que não poderá ser superada apenas com dinheiro e não poderá ser superada pela distribuição de preservativos".

A solução estaria em um "despertar espiritual e humano" e na "amizade por aqueles que sofrem", disse o papa, segundo a agência de notícias AFP.

Em sua viagem pela África, que além de Camarões também inclui Angola, Bento 16 deve se dirigir a jovens a respeito da epidemia de Aids e defender a decisão da Igreja Católica de recomendar a abstinência sexual como a melhor forma de prevenção da doença.

O papa fez uma afirmação parecida a bispos africanos que visitaram o Vaticano em 2005. Na ocasião, Bento 16 disse aos bispos que a abstinência e a fidelidade, e não os preservativos, são os meios para lidar com a epidemia de Aids.

'Feridas dolorosas'

A viagem deve durar uma semana, e Bento 16 deve passar três dias em Camarões, antes de seguir para Angola. No domingo, Bento 16 afirmou que queria "abraçar o continente africano, com suas feridas dolorosas, seu enorme potencial e esperança".

Diante de peregrinos na praça de São Pedro, o papa afirmou que quer alcançar as vítimas da fome, de doenças, de "conflitos fratricidas" e da violência que afeta adultos e crianças no continente.

De acordo com informações do Vaticano, o número de católicos na África vem aumentando de forma constante nos últimos anos.

Católicos batizados eram 17% da população da África em 2006, comparados com os 12% em 1978, segundo o Vaticano.

Mas, de acordo com o correspondente da BBC em Roma, David Willey, o continente africano é uma região onde a Igreja Católica enfrenta crescente competição das igrejas evangélicas, de seitas e do islamismo.

Reunião com bispos

Em Camarões, moradores de Iaundê varreram e limparam as ruas com o objetivo de preparar a cidade para a visita de Bento 16.

O papa fica na capital do país até sexta-feira e, durante a visita, vai se reunir com bispos de todo o continente africano, que foram convocados em uma reunião em Roma, em outubro de 2008. O objetivo da reunião é discutir o papel da Igreja na África.

Em Angola, país que ainda se recupera de 27 anos de guerra civil, Bento 16 vai se reunir com diplomatas em Luanda e deve fazer um pedido para que a comunidade internacional não abandone a África.

O pontífice também deve ter reuniões particulares com líderes políticos nos dois países.

Thursday, March 05, 2009

Horripilante!

Devo dizer que respeito a Igreja Católica pelo acúmulo de cultura que ela consolidou em 2.000 anos de História, por ter sido o celeiro de algumas das melhores cabeças pensantes do Civilização Ocidental e pela riqueza artística de seu patrimônio arquitetônico. Mas isso foi há muito tempo atrás...

A notícia abaixo, sob a excomunhão feita pelo bispo de PE dos profissionais de saúde envolvidos no aborto, legal, em uma menina de 9 anos estuprada pelo pai é mais do que simbólica de que as idéias da Igreja na contemporaneidade soam ridículas, ultrapassam o absurdo e invadem o terreno do grotesco.
Condenar quem fez o aborto em uma menina estuprada de 9 anos é rídículo, primeiro porque na contemporaneidade, a excomunhão é mais inútil que uma máquina de telégrafo. Na Idade Média, um senhor feudal excomungado podia ser morto com justificativa ( matar infiéis nunca foi pecado pela Igreja) e perdia seus laços de vassalagem e susserania, portanto podia ver suas terras tomadas. Pena que não estamos na Idade Média, deve pensar o bispo de PE, que ridiculamente, excomunga pessoas comuns que muito provavelmente nem sequer vão à missa...
Ademais, é grotesco imaginar que uma menina de 9 anos estuprada e grávida na zona rural de Pernambuco deve dar a luz, só porque o Papa em Roma disse que assim devia ser: muito provavelmente, essa menina se levasse adiante a gravidez teria chances enormes ou de morrer no parto, ou durante a gravidez ou ter um filho com graves deformações ou natimorto. Na visão cega do bispo, são todas opções melhores que um aborto em condições de segurança médica num hospital. Isso sem falar no mais humilhante: a menina estuprada aos 9 anos ter que conviver com uma filha (caso conseguisse as duas sobreviverem ) pelo resto da vida, gerada pelo ódio de um psicopata, no caso, o autor do estupro, o padrasto. Ela mesma, sem direito a uma opinião sobre o assunto.
A Igreja perdeu a noção da realidade há muito tempo. Notícias relacionadas a ela dão conta apenas de opiniões e fatos ridículos como esse ou coisas piores. Pedofiilia generalizada e encoberta. Nomeações de bispos que negam o Holocausto judaico na II guerra feitas pelo Papa. A volta do latim nas missas. Excomunhão em pleno século XXI. Tudo isso me leva a uma nova fase de minha relação com a Igreja Católica. Durante os anos de estudo na USP, odiava a Igreja pelo que ela fez de absurdo na História, seus massacres, sua corrupção, sua sede de poder. Agora, vendo a Igreja hoje, o máximo que consigo sentir é pena.


texto:
Piero Locatelli*
Do UOL Notícias
Em Brasília
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, repudiou a atitude da Igreja Católica ao decidir pela excomunhão dos envolvidos com o aborto de gêmeos de uma menina de nove anos que ficou grávida no interior de Pernambuco, após ser estuprada pelo padrasto. A criança foi submetida ao aborto no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), em Recife. Segundo Temporão, o aborto foi feito legalmente, porque a gravidez foi consequência de um caso de estupro e que colocava a menina em risco. "A decisão da Igreja não tem respaldo algum. A posição do bispo é lamentável", disse o ministro. O ministro Carlos Minc, da pasta de Meio Ambiente, acompanhava Temporão após uma reunião nesta quinta-feira e também se disse revoltado com a atitude da Igreja Católica. "A Igreja, que em tese deveria ter ajudado, causou outro trauma na menina".

Temporão já havia criticado a posição da instituição durante entrevista a emissoras de rádio no programa "Bom Dia, Ministro". "A lei brasileira é muito clara: a interrupção da gravidez é autorizada em caso de estupro. Trata-se de uma criança e, do ponto de vista biológico, não acredito que ela tivesse condições de levar a termo essa gestação de gêmeos", disse.

O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, decidiu excomungar todas as pessoas que participaram do procedimento ou que o apoiaram. A resolução foi feita na noite de quarta-feira, algumas horas depois de a menina ser submetida ao aborto. Ela deve receber alta da maternidade em Recife ainda hoje.

No último dia 3, a polícia prendeu o trabalhador rural José Amâncio Vieira Filho, acusado de estuprar a enteada. A prisão foi feita após o caso ter se tornado público no município de Alagoinha, no agreste pernambucano. A polícia afirma que Vieira já confessou que abusava da criança

Tuesday, March 03, 2009

Fascinante !!!



Uma dos assuntos que mais me interessam, aliás um dos POUCOS assuntos que me interessam, são os estudos sobre as profundezas do mar e os estranhos animais que lá se encontram, muitos deles nunca vistos. Lulas gigantes, peixes que brilham no escuro do mar profundo e agora esse peixe, que tem olhos não na cabeça, mas DENTRO dela e de lá olham as profundezas, felizmente incapazes de ver um certo macaco fedido que está alegremente destruindo o planeta dele.

texto do site do Terra / NatGeo:

Com uma cabeça semelhante à cabine de um avião de combate, esse peixe do Pacífico possui olhos similares a barris, com lentes orbitais verdes no topo.

O peixe, descoberto vivo nas águas profundas da Califórnia pelo MBARI (Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey), é o primeiro espécime do tipo a ser descoberto com seu domo transparente e macio intacto.

O peixe de 15 centímetros da espécie Macropinna mircostoma é conhecido desde 1939 - mas apenas através de espécimes mutilados por redes de pesca que vinham à superfície.

Os dois orifícios pequenos e esféricos na frente do peixe não são olhos, mas órgãos olfativos. Os olhos tubulares e acinzentados ficam abaixo dos domos verdes, que filtram luz. Nesta imagem, os olhos estão direcionados para cima - de modo a enxergar suas presas nas profundezas de seu lar nas águas profundas do Pacífico.

Como seus olhos são tubos levantados, "parecia que eles só enxergavam para cima", disse o técnico marinho do MBARI Kim Reisenbichler. Mas ao observar os peixes vivos de um veículo de operação remota e ao trazer um espécime ao aquário para estudos, os cientistas descobriram que os olhos podiam girar, como um observador de pássaros apontando seus binóculos.

Esses peixes de cabeça transparente podem roubar peixes de sifonóforos - criaturas gelatinosas que podem chegar a 10 metros, segundo os pesquisadores que divulgaram as novas descobertas e imagens do estranho peixe.

Suas barbatanas achatadas e horizontais lhe permitem nadar de forma precisa entre os tentáculos aferroados dos sifonóforos - e, em caso de erro, seu escudo claro protege seus olhos como um capacete, de acordo com cientistas do MBARI.

O M. mircostoma vive mais de 600 metros abaixo da superfície oceânica, onde a água é quase preta.

O peixe de olhos de barril passa boa parte de seu tempo sem se mover, olhando para cima, descobriram os cientistas do instituto enquanto observavam o espécime de um veículo operado remotamente.

As lentes verdes no topo de cada olho filtram a pouca luz solar que consegue chegar da superfície, permitindo ao peixe se concentrar na bioluminescência de criaturas gelatinosas pequenas ou de outras presas que passam acima dele.

É quando os olhos giram para frente acompanhando a presa, permitindo que o peixe mire em sua refeição