Mais uma vez, vai o post do genial William Waack: tomei a absurda liberdade de grifar os trechos que acho fundamentais e depois vou tomar outra liberdade, ainda mais indecente aliás, de comentá-los: aqui vai o endereço do site dele:
http://colunas.g1.com.br/williamwaack/
Postado por William Waack em 29 de Setembro de 2008 às 21:45
O texto de hoje é sobre a crise financeira internacional. Antes, porém, um recado aos leitores: esta seção do G1 é uma coluna que não é diária. Uma das características da atual crise é a rápida sucessão de eventos. Portanto, vou tentar me concentrar em aspectos que possam ser lidos nas próximas duas horas sem padecer de envelhecimento precoce.
Quais são as conseqüências político-sociais de longo prazo do cataclismo (sim, estamos diante de uma catástrofe)? Acho que vamos considerar 2008 como um ponto de inflexão, assim como 1929 acabou sendo consagrada como uma data que prenunciava importantes mudanças – ainda que o impacto mais forte da crise daquela época só fosse atingir as principais economias européias em 1934/5.
Especialmente os comentaristas europeus (franceses e alemães, em particular) assinalam o fim do “modo” anglo-saxônico de encarar os mercados financeiros. O argumento mais corrente é o de que as principais economias européias, muito mais reguladas que as dos Estados Unidos e Reino Unido, sofrerão menos com a crise.
O problema desse argumento são os fatos dos últimos dias: os principais governos europeus tiveram de socorrer instituições financeiras privadas com dinheiro público. O socorro prestado pelo governo alemão a uma das principais caixas hipotecárias do país irritou profundamente a própria comissão da União Européia (mas os Países Baixos tiveram de fazer o mesmo, praticamente na mesma hora).
Não, por favor, não leiam isto como uma prova de que “são todos os mesmos” (afinal, não é com dinheiro público que o governo americano quer salvar o sistema financeiro?).
Nos países europeus, a presença do Estado na economia foi sempre vista de outra maneira do que nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Sobretudo os social-democratas acham que os tempos mudaram – e por um período muito longo – a favor de sua tese favorita, e que se traduziu numa expressão alemã adotada também pelos conservadores: economia social de mercado, com forte presença dirigista do Estado. Nicolas Sarkozy, o “liberal” presidente francês, assinaria embaixo.Há um debate entre os dois lados do Atlântico muito mais cultural do que ideológico sobre o papel de governos não apenas em situações de crise. Essa discussão está profundamente ligada aos problemas que a globalização apresenta também para as economias mais avançadas, e este provavelmente é um dos pontos mais negativos da atual crise: ela deve provocar uma onda irrefreável de protecionismo em nome da proteção de empregos e sobrevivência de instituições nacionais (bancos e empresas, por exemplo).
Curiosamente, os europeus levantam de novo as bandeiras de valores fundamentais da economia, como trabalho e poupança, contra o “estilo anglo-saxão” de tomar empréstimos e arriscar nos mercados de capital. É interessante notar que, em sociedades de outros lugares do planeta (Japão, por exemplo), “trabalho” e “poupança” são valores bastante cultivados e nem por isso os japoneses escaparam de uma difícil situação econômica, e não faz muito tempo.
Os autores clássicos, especialmente os da Sociologia, costumam dizer que, sem um arcabouço teórico, dificilmente se entende os fatos correntes. É o que economistas dizem agora da atual crise. Robert Samuelson, por exemplo, argumenta que o “vácuo intelectual” a respeito de qual teoria econômica melhor explicaria a atual crise é que levou ao caos político no Congresso americano. Em outras palavras, não se previa – pelo menos do ponto de vista da teoria – o que viria acontecer. A principal delas: a falta de experiência em como estabilizar mercados financeiros.
Ligar diretamente em relação de causa-efeito mecânica o campo da economia e o da política é um tipo de sub marxismo que nada explica da realidade – é o departamento das verdades absolutas e respostas prontas, que apenas confundem. É difícil prever, portanto, como e se a atual crise, que promete ser longa e difícil, levará a conseqüencias políticas, e onde.Mas é possível dizer que, no campo “cultural” do debate entre Estado e Mercado, o pêndulo deve mover-se com força para o primeiro lado. Deve aumentar consideravelmente nossa (de novo, no campo “cultural”) insegurança diante de um mundo no qual tudo parecia explicado, conectado, ajustado e, por tanto, controlável. É aquilo que, em alemão, chama-se “Kulturpessimismus” – a idéia de que, no fundo, não somos capazes de dar ordem e direção ao que queremos.
Não falo aqui do ponto de vista do investidor (os inteligentes saberão perceber no momento de crise também o momento da oportunidade). Falo do ponto de vista da experiência de sociedades que se julgavam acima de crises.
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O texto é de uma riqueza imensa, portanto, vou apenas comentar muito rapidamente e porcamente, como é de minha (in)competência os dois trechos:
1-Nos países europeus, a presença do Estado na economia foi sempre vista de outra maneira do que nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Sobretudo os social-democratas acham que os tempos mudaram – e por um período muito longo – a favor de sua tese favorita, e que se traduziu numa expressão alemã adotada também pelos conservadores: economia social de mercado, com forte presença dirigista do Estado. Nicolas Sarkozy, o “liberal” presidente francês, assinaria embaixo.A tese da escola liberal, mais seguida pelos americanos e ingleses, propõe o menor intervencionismo possível na economia: os próprios mercados regulam-se, sendo o Estado um fator apenas de estabilização geral, nunca um regulador. Com a crise aguda nos mercados de capitais, em grande parte herdade de um ambiente sem nenhuma regulação, a tese liberal perde força em relação às teses mais ligadas à escola européia social-democrata, keynesiana ( digite Keynes na Wikipedia): o Estado não deve apenas ser um criador de regras gerais, mas deve regular, com atuação constante, a economia. Atenção esquerdistas de plantão: isso não tem nada a ver com estatização à la Chávez ou Morales, mas tem a ver com a diferença de regulação econômica entre uma Inglaterra, por exemplo, e uma Alemanha ou França, com maior presença do Estado na economia.
2-
Ligar diretamente em relação de causa-efeito mecânica o campo da economia e o da política é um tipo de sub marxismo que nada explica da realidade – é o departamento das verdades absolutas e respostas prontas, que apenas confundem. É difícil prever, portanto, como e se a atual crise, que promete ser longa e difícil, levará a conseqüencias políticas, e ondeExplicações tolas e esquerdóides sobre a crise vão abundar nas sub-revistas de sub-informação....cuidado: trata-se de um fenômeno complexo, que não pode, nem merece, meia dúzia de palavras de ordem vazias que vão chegar a brilhante conclusão de que a melhor coisa da Humanidade é Cuba... ou Chávez... se até a crise de 29, que daqui a pouco vai completar 100 anos, ainda não foi plenamente explicada, o que dizer da atual, ainda mais complexa? Economia de mercado ainda é MUITO melhor que economia estatizada ( de novo, basta olhar Cuba ou Alemanha...ou se quiser, Coréias, do Norte e do Sul) mas o problema é : como regular, ou não, os mercados ? como conter e solucionar crises ? Como evitá-las? Como achar o equilíbrio entre o dinamismo maravilhoso do capitalismo, com sua fantástica vocação para criar riqueza do nada e ao mesmo tempo a igualmente fantástica vocação do capitalismo para destruir a mesma riqueza que criou... e evitar os escombros da desigualdade.
Acabado o pesadelo estatizante comunista e o delírio Cubano-Soviético ( pelo menos para o mundo inteligente), a pergunta continua em aberto: qual o futuro do capitalismo?