Tuesday, October 30, 2007

Desastre anunciado.

Paulo Francis já dizia: "esporte, sublime divertimento dos néscios". E por falar em néscios, de acordo com outra genial frase de Padre Vieira, "infinitos em número e eternos na duração", o Brasil conquistou sua Copa do Mundo.
Nada poderia ser pior do que uma Copa do Mundo no Brasil, com exceção de uma Copa do Mundo no Brasil durante um terceiro governo Lula ( já reparou que Lula sai em 2010 e pode voltar exatamente no ano da Copa?). Essa Copa poderá custar a bagatela de 16 bilhões de dólares de investimentos, fora a robalheira tradicional, infinita, num país onde pessoas morrem em corredores de hospitais e onde o governo insiste em arrancar o dinheiro das pessoas com a CPMF. Interessante prioridade essa do governo Lula : apoiar a Copa que custará alguns bilhões, ao mesmo tempo em que tenta manter o imposto. O Brasil é um país da piada pronta, como diz José Simão. Ou seria melhor, um puteiro da piada pronta ?
Claro que esse dinheiro da Copa deveria ser melhor utilizado. E não me venham dizer que a Copa trará lucro: tanto ela como as Olimpíadas, outra desgraça, sempre trouxeram pesados prejuízos aos países ou cidades. Muita grana para 15 dias de jogos, depois fica tudo abandonado, como aliás estamos vendo no Panamericano do RJ. Ou vc acha que aquelas tralhas todas construídas com o seu, o meu e o nosso dinheiro têm alguma utilidade atualmente ?
Só posso dizer uma coisa: a Copa no Brasil é um desastre. Custará caro, não trará lucro. O país jogará precioso dinheiro fora que DEVERIA ser usado em hospitais, estradas, escolas, segurança. Ou ainda melhor, esse dinheiro do governo poderia ficar no seu bolso, pois poderíamos pagar menos impostos. Aliás, a começar com a extinção da CPMF...
Fica a pergunta ?Porque a Copa se é ruim ? Ela é ruim para você e eu, que pagamos impostos. Mas para alguns grupos, é ótima. Os meios de comunicação ganham rios de dinheiro com a euforia da Copa e cotas de patrocínio. A CBF, a máfia que controla o futebol brasileiro, ganhará ainda mais. Algumas empresas esportivas terão enorme visibilidade, Nike e outras inclusas. E claro, os e sempre, os políticos, incluindo um Lula que antes de ir já planeja voltar, triunfante, no ano da Copa. Sem falar nas construtoras, já babando de prazer pelas licitações dos novos estádios. O setor do turismo fatura menos do que se imagina, pois a Copa, assim com as Olimpíadas, dura pouco, 15 dias. O argumento de que o país gera empregos é tolo: o investimento público é alto demais para dar retorno. E o número de empregos gerados é ínfimo perto do que poderia ser feito se toda essa grana fosse bem usada pelo governo ou fosse ainda melhor usada, sendo sua, com diminuição da carga tributária. Muito melhor a corrida de F1 em SP: tem bem menos investimento estatal e ocorre todo ano.
Como se vê: ganha-se muito com a Copa. Alguns. Mas a conta fica com você e eu.

Wednesday, October 24, 2007

Muito estranho...

O padre Júlio Lancelotti sempre foi um dos mais ativos defensores dos "direitos humanos" no Brasil nos últimos 10 anos. Digo entre aspas porque esses "direitos humanos" não são os direitos humanos que eu, e muitos como eu, defendemos: Lancelotti sempre defendeu ativamente os direitos da bandidagem, principalmente dos "menores infratores", mais conhecidos como assassinos com menos de 18 anos...
Muito ativo na sua defesa, foi um dos maiores críticos da Febem e da "repressão policial", sempre pronto a lançar manifestos, rezar missas, organizar passeatas e escrever artigos nos jornais sempre que algum caso de violência policial ocorreria ou mesmo quando não ocorria...Era particularmente histérico quando alguém em debates televisivos propunha a diminuição da idade penal para 16 anos, para ele uma monstruosidade contra seus "adoráveis menores, vítimas da desigualdade social". Foi também um dos maiores articuladores da demolição do Carandiru, após o "massacre" dos presos, como ele mesmo sempre chamou aquela operação policial.
Ultimamente ele andava meio calado. Também pudera: nos últimos anos nos acostumamos a ver notícias de crimes chocantes, monstruosos, cometidos pelos mesmos que ele sempre defendeu. Lancelotti ficou bem quieto quando surgiu o caso Champinha. Sumiu de cena para evitar ser confrontado com a realidade: suas idéias na prática estavam defendendo criminosos que fariam corar de vergonha até membros da SS nazista. Mas mesmo assim, aparecendo menos na mídia mas frequentando muito os altos esquemas de poder, federal ou estadual, Lancelotti continuava ativo na sua causa mística: defender menores assassinos ou assassinos maiores de idade mesmo....
Pois é, nas últimas semanas surgiu uma história estranhíssima...ele estaria sendo vítima de extorção por um dos seus queridinhos menores, hoje adulto. Esse menor, que ele conheceu na Febem, após sair de lá, começou a ameaçar o padre, caso ele não lhe desse dinheiro. Só isso bastaria para mostrar a todos, incluindo ao próprio Lancelotti, que suas idéias, lindas na teoria, são uma lástima na realidade. Mas tem coisa ainda pior cheirando mal...
O tal do menor, hoje adulto, teria tirado mais de 50 mil reais do padre. Como assim ? Em outras palavras, esse menor não estorquiu umas cestas básicas do padre ou uma graninha qualquer, mas 50 mil ! E ainda mais estranho, durante mais de um ano... E para tornar tudo muito opaco, o tal do menor, hoje adulto, estaria tirando dinheiro do padre para pagar a prestação de uma Mitsubishi Pajero, no valor de 2 mil por mês....!!!! Muito estranho um padre que se diz defensor dos pobres e oprimidos pagar prestação de um baita carrão de luxo a um ex-menor infrator da Febem, não ? Muito estranho um padre dar 50 mil a um infrator, sob o título de dizer que estava ajudando o menor a "refazer sua vida". Refazer a vida com mais de 50 mil e um carrão importado ?
O ex-febem dizia que se o padre não desse o dinheiro, ele seria acusado de pedofilia, falsa acusação, disse o padre na entrevista no jornal Estado de SP. O mesmo jornal, dias depois, publicou o depoimento da vizinha do cara que estava tirando dinheiro do padre, esse cara hoje está preso, dizendo que Lancelotti frequentava assiduamente a casa do ex-febem e , de acordo com ela, sempre entrava e saia alegre, como se não estivesse sendo extorquido de nada...
Por um acaso você está pensando o mesmo que eu estou pensando ?

Friday, October 19, 2007

Apocalipse Now

Como não lembrar da cena do filme Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla ?
Os helicópteros sobrevoam o povoado vietcong enquanto disparam, aleatoriamente, rajadas de metralhadora nos camponeses, mulheres e crianças, tudo isso enquanto o comandante coloca no rádio dos aparelhos a sinfonia de Wagner, o músico preferido dos nazistas, "Cavalgada das Valquírias".
Essa semana, tivemos nossa cena de Apocalipse Now no sempre surpreedente Rio de Janeiro. Enquanto os dois traficantes fogem, em desespero, o aparelho da polícia ataca furiosamente, levantando nuvens de poeira até os dois caírem, trucidados. Nem o filme "Tropa de Elite" conseguiu cena tão marcante....
Mas antes que entidades dos "Direitos Humanos" Dos Bandidos reclamem ( e é claro, já reclamaram...) há duas diferenças importantes entre o filme de Copolla e a cena do RJ: lá, os helicópteros matavam aleatoriamente pessoas inocentes, mostrando como a realidade da guerra era brutal. Aqui, os traficantes do morro não são camponesas cultivando arroz com filhos de 5 meses amarrados nas costas....são soldados, mais bem armados do que a polícia aliás, enfrentando o Estado para lucrar com o tráfico de drogas.
Portanto, embora as cenas tenham paralelos impressionantes, devagar com as comparações. Uma camponesa vietcong não podia fazer nada, senão correr, dos americanos sanguinários nos anos 70. O traficante do morro carioca tem bazucas que derrubam qualquer aeronave num raio de vários quilômetros. Sem essa de dizer que são "inocentes" sendo massacrados pela polícia.....sendo massacrados sim, mas não são inocentes.....
Mas uma coisa as duas cenas têm em comum: são imagens de uma guerra.

Tuesday, October 16, 2007

Chávez é um perigo

Chávez é um perigo cada dia maior na América do Sul.
Um ditador sem disfarces, ele se sustenta na Venezuela por duas coisas :
1-altos preços do petróleo que garantem gordos lucros para o Estado, que por sua vez repassa uma parte para os mais pobres em "programas sociais", vulgo compra de apoio por comida e cargos públicos. Nesse sentido, suas perspectivas são boas, pois embora ele esteja destruindo a economia da Venezuela com a expulsão de investidores "imperialistas" estrangeiros e a estatização de setores fundamentais, os preços do óleo não vão cair mais no mundo. Se a Venezuela dos próximos 50 anos será um desastre, caso Chávez continue no poder, isso não afeterá seu desempenho social no curto prazo, já que óleo caro compra os pobres para seu governo.
2-um discurso anti-americano, infantil, oco e estúpido, mas que ressoa muito bem nos ouvidos menos instruídos ou seja dos pobres que nunca frequentaram escolas e são idiotas, e dos ouvidos instruídos na baboseira esquerdóide latrino-americana, o que aliás dá na mesma do grupo acima.

Então, porque ele é um perigo ? Por que aquelas duas combinações podem ruir em pouco tempo. Repito, o preço alto do óleo vai ficar por muito tempo, até ele acabar de vez da Terra, mas Chávez cansa. Cansa os mais pobres que não querem apenas cestas básicas e bolsa família, mas querem melhorar de vida. Como a economia real do pais vai de mal a pior, com inflação alta, fechamento de fábricas e racionamento de produtos, os mais pobres podem em pouco tempo perder a paciência com Chávez, assim como já perdeu a classe média. E ao mesmo tempo, a retórica imbecilizante anti-americana de Chávez também cansa, aliás já cansou faz tempo.
E o perigo ? Quando um ditador perde apoio popular, seus inimigos imaginários podem se tornar reais. É tentador para Chávez, assim que começar a perder apoio popular, iniciar uma guerra externa, que sempre é o meio mais fácil para unificar um país sob uma única forma de pensar, esquecendo os problemas internos ao criar-se um inimigo externo. Por enquanto, os inimigos de Chávez são apenas os fantasmas do "imperialismo americano" ou qualquer outra besteira da esquerda burra. Mas esses inimigos discursivos poderiam ser tornar reais. Não acredito que ele seja burro o suficiente, mais do que já é, para querer uma guerra contra os EUA. Ditadores raramente são suicidas. Mas um guerra na já em conflito Colômbia seria tentadora, afinal, ele, Chávez, tem ótimas relações com a narco-guerrilha de esquerda, que muito provavelmente deve estar traficando pelas fronteiras venezuelanas com o aval de Chávez. Como essa guerrilha é combatida pelo governo colombiano, está aí um fator de conflito bem possível.
E o Brasil com isso ? Como se trata de uma fronteira imensa, mal vigiada, afetada pelo tráfico e pela guerrilha, e como nossas forças armadas foram sucateadas alegremente durante os reinados FHC e Lula, estamos muito bem para enfrentar possíveis problemas na região, como invasão de guerrilheiros, traficantes e um possível transbordamendo de uma futura guerra entre dois estados.
Muito bem fodidos.

Tuesday, October 09, 2007

Lula : o que fica ?

O que fica do governo Lula, já que na prática, ele acabou ?
Algumas coisas boas, como a inflação sob absoluto controle, o crescimento econômico medíocre quando comparado aos outros BRIC´s mas bem melhor que o de Fernando Henrique.
Muitas coisas péssimas: aumento da burocracia, da corrupção e do fisiologismo numa escala nunca antes testada, piora na educação e na saúde, descaso com a segurança e principalmente, a sempre burrice, onipresente , de Lula, temperada com ares de arrogância e messianismo.

Mas em minha opinião o fica de melhor no governo Lula foi a disseminação do computador. A Lei da Informática, aprovada durante o governo FHC e implementada no início do governo Lula, baixou de forma radical os impostos sobre o setor, tranformando uma área vital na economia e na cultura de um país, de pirata para legal em poucos anos. Aliado a um aumento do crédito e a um dólar baixo chegamos a um patamar de preço para o cidadão quase igual ao de países desenvolvidos. Amigos meus disseram que um bom notebook custa nos EUA algo como 600 dólares, algo como 1.200 reais. Por aqui, um notebook já custa em torno de 1.500 reais, praticamente o mesmo preço do americano. Há 5 anos atrás, custava 5 mil e há uns 10 anos, isso eu me lembro bem, o preço de um Uno Mille zero km....Há desktops que custam menos de mil reais, financiados em 24 meses com parcelas menores que 50 reais. O impacto disso na economia dispensa comentários, mas muito maior é o impacto na cultura, no entretenimento, na abertura intelectual que famílias de baixa renda podem ter com o computador e a internet ( essa ainda um pouco cara e lenta). Ao mesmo tempo, o governo Lula encampou a idéia de um laptop por criança do MIT e em breve poderemos ter toda uma geração alfabetizada em PC´s, um avanço monstruoso em relação ao banal papel, lousa e giz.
Isso fica de bom do governo Lula : nunca antes no Brasil foi tão fácil comprar um laptop, um desktop, com preços, prazos e principalmente, legalizados. Eu mesmo sou exemplo disso: meu primeiro laptop completa hoje, um ano de idade.

Tá na hora de trocar...

Monday, October 08, 2007

Tome mais Estado...

Noço querido prezidente saiu com mais essa : contratar funcionários públicos não é inchar o Estado, mas torná-lo mais eficiente.
Talvez ele estivesse se referindo aos mais de 36 ministérios de seu governo, com sub-secretarias, sub-diretorias, cargos de segundo e terceiro escalões, autarquias, estatais, entidades, enfim, toda uma monstruosidade que existe única e exclusivamente para isso: servir de moeda de troca nas negociatas com o Congresso.
O Brasil precisa de menos e mais Estado: mais Estado nas áreas nas quais ele não existe ou é deficiente, educação pública de qualidade, saúde pública, justiça e segurança. E com certeza precisa de menos, bem menos, nas áreas nas quais ele, Estado, já é pantagruélico: cargos burocráticos do tipo ASPONE. Lula foi o maior criador de Aspones em toda a história republicana; há até um Ministério de Longo Prazo (??) entregue ao analfabeto Mangabeira Unger, que até ontem atacava Lula e agora, com um belo cargo no governo e toda uma renca de Aspones a sua disposição é só amores com o presidente.
E por falar em Estado-Monstro, que tal os 40 bilhões da CPMF ? Seria um deleite, quase um orgasmo cívico, se por um acidente meteorológico o Congresso não aprovasse o imposto.... o governo ameaça dizendo que esse dinheiro seria fazer falta na saúde ou na infra-estrutura. Eu tenho certeza que sim. Pois afinal, se faltassem de repente 40 bilhões no orçamento do governo, cortes imensos seriam feitos nos gastos da saúde ou da segurança por exemplo, mas nenhum centavo seria perdido nos extremamente úteis ministérios do governo Lula, como o da Pesca, o do Longo Prazo e o da Igualdade Racial. O Estado brasileiro existe para isso: você paga muito, recebe quase nada em troca, mas ele, Estado, continua crescendo a cada novo governante, para acomodar tantos cargos e interesses. Fica uma pergunta: há um limite?

Monday, October 01, 2007

Tropa de Elite

O filme "Tropa de Elite" já é um fenômeno, pelo menos, em relação a pirataria: NADA foi pirateado tão rápido como ele, a tal ponto de ser um dos filmes mais comentados e já assistidos do ano, isso sem sequer ter estreado no cinema....Só isso já mereceria um comentário à parte, mas o mais importante é falar do filme em si.
"Tropa de Elite" narra a história de um capitão do BOPE da cidade do RJ. A temática da violência urbana não é nova no cinema nacional, mas esse filme traz novidades interessantíssimas: em primeiro lugar, ele foge do lugar comum de ver a criminalidade de um ponto de vista "opressores-oprimidos", "bonzinhos-malzinhos" como aparece nos filmes 'Cidade de Deus" e "Carandiru", ambos verdadeiros libelos que elogiam a criminalidade e os bandidos como seres espirituais prontos a serem canonizados; no filme "Tropa de Elite", ninguém presta. Não há heróis, apenas pessoas comuns tentando sobreviver em meio ao caos urbano, legal e ético de um país em decadência. A polícia militar do Rio é escrachada ao máximo: sem dinheiro para consertar viaturas jurássicas, sem interesse em diminuir crimes, corrupta ao extremo, ineficiente e no fundo, dependente do dinheiro sujo do tráfico. Mesmo assim, o filme não cria a imagem batida do "mau policial, cruel e torturador": são apenas funcionários públicos mal pagos, tentando não levar um tiro numa cidade sem lei nenhuma. Quase chegamos a ter simpatia pelo personagem capitão Fábio, um policial cafetão que tenta armar esquemas para ganhar uma grana melhor que seu mísero salário.
Ao mesmo tempo, temos o BOPE. Batalhão de elite, é a única parte da polícia não corrompida, que parte pra guerra contra os traficantes, violentíssimos, onipresentes no morro. Porém, nada de heróis de novo. Os membros do BOPE têm treinamento exemplar, duríssimo, odeiam policiais corruptos, mas ao mesmo tempo não pensam duas vezes antes de matar traficantes depois de presos, torturar para obter informações e ocasionalmente, matar inocentes ou deixá-los morrer. São vistos como "heróis possíveis", no único jeito de combater a criminalidade: deixar a lei, que protege acintosamente o tráfico e o criminoso de lado, e fazer justiça com a mira da calibre 12. Mais uma vez, não há juízo de valor: sob a ótica do filme, eles apenas fazem o que qualquer um faria. Tentam sobreviver.
Só desse ponto de vista, o filme já seria ótimo, pois ele quebra de vez com a ótica enfadonha e rançosa da esquerda brasileira de que a polícia representa "as forças da repressão contra os pobres": ser policial no RJ tem, de acordo com o filme, poucas opções: ou se é corrupto e ineficiente, aliado do tráfico, ao se é honesto, mas violento. Agir dentro da lei e manter a honestidade é impossível. A partir dessa constatação, hoje em dia bastante evidente, já poderíamos tecer dias de comentários sobre a urgente necessidade de mudar as leis penais brasileiras, que no fundo, servem ao crime. Só por isso o filme já vale a pena. Mas tem mais....

O filme bate pesado em outro tema: a relação entre crime e elite, entre tráfico e consumo. Pois se há um vilão, esse vilão é a classe média alta carioca, universitária, intelectualizada, que faz trabalho em ONGs na favela, tem "consciência social", lê Foucault mas fuma maconha e trafica, alimentando o crime no morro. Em cena memorável, aspirantes a intelectuais da PUC/RJ fazem um seminário sobre Michel Foucault, um dos teóricos "papas" dos defensores dos direitos humanos, criticam a violência policial e a "opressão do Estado sobre os mais pobres" enquanto acendem um baseado..... A hipocrisia da classe média intelectual de esquerda é mostrada abertamente no filme, a tal ponto que tive um orgasmo na cena em que o policial honesto e esforçado, estudante universitário pobre, senta o cacete no traficante de classe média, fazendo passeata enquanto pedia paz no morro....

Não à toa, o filme foi deixado de lado na escolha do representante nacional ao Oscar. Afinal, um filme que bate pesado na esquerda brasileira, ávida consumidora de maconha nas USPs da vida, enquanto fala mal da violência policial e lê sociólogos franceses, incomoda. Incomoda tanto que o escolhido pelo júri foi "O ano em que meus pais saíram de férias". Temática? A repressão da ditadura militar contra intelectuais de esquerda..... em outras palavras, nada melhor que fugir para o passado, para evitar debater o presente. BOPE neles.