Monday, October 01, 2007

Tropa de Elite

O filme "Tropa de Elite" já é um fenômeno, pelo menos, em relação a pirataria: NADA foi pirateado tão rápido como ele, a tal ponto de ser um dos filmes mais comentados e já assistidos do ano, isso sem sequer ter estreado no cinema....Só isso já mereceria um comentário à parte, mas o mais importante é falar do filme em si.
"Tropa de Elite" narra a história de um capitão do BOPE da cidade do RJ. A temática da violência urbana não é nova no cinema nacional, mas esse filme traz novidades interessantíssimas: em primeiro lugar, ele foge do lugar comum de ver a criminalidade de um ponto de vista "opressores-oprimidos", "bonzinhos-malzinhos" como aparece nos filmes 'Cidade de Deus" e "Carandiru", ambos verdadeiros libelos que elogiam a criminalidade e os bandidos como seres espirituais prontos a serem canonizados; no filme "Tropa de Elite", ninguém presta. Não há heróis, apenas pessoas comuns tentando sobreviver em meio ao caos urbano, legal e ético de um país em decadência. A polícia militar do Rio é escrachada ao máximo: sem dinheiro para consertar viaturas jurássicas, sem interesse em diminuir crimes, corrupta ao extremo, ineficiente e no fundo, dependente do dinheiro sujo do tráfico. Mesmo assim, o filme não cria a imagem batida do "mau policial, cruel e torturador": são apenas funcionários públicos mal pagos, tentando não levar um tiro numa cidade sem lei nenhuma. Quase chegamos a ter simpatia pelo personagem capitão Fábio, um policial cafetão que tenta armar esquemas para ganhar uma grana melhor que seu mísero salário.
Ao mesmo tempo, temos o BOPE. Batalhão de elite, é a única parte da polícia não corrompida, que parte pra guerra contra os traficantes, violentíssimos, onipresentes no morro. Porém, nada de heróis de novo. Os membros do BOPE têm treinamento exemplar, duríssimo, odeiam policiais corruptos, mas ao mesmo tempo não pensam duas vezes antes de matar traficantes depois de presos, torturar para obter informações e ocasionalmente, matar inocentes ou deixá-los morrer. São vistos como "heróis possíveis", no único jeito de combater a criminalidade: deixar a lei, que protege acintosamente o tráfico e o criminoso de lado, e fazer justiça com a mira da calibre 12. Mais uma vez, não há juízo de valor: sob a ótica do filme, eles apenas fazem o que qualquer um faria. Tentam sobreviver.
Só desse ponto de vista, o filme já seria ótimo, pois ele quebra de vez com a ótica enfadonha e rançosa da esquerda brasileira de que a polícia representa "as forças da repressão contra os pobres": ser policial no RJ tem, de acordo com o filme, poucas opções: ou se é corrupto e ineficiente, aliado do tráfico, ao se é honesto, mas violento. Agir dentro da lei e manter a honestidade é impossível. A partir dessa constatação, hoje em dia bastante evidente, já poderíamos tecer dias de comentários sobre a urgente necessidade de mudar as leis penais brasileiras, que no fundo, servem ao crime. Só por isso o filme já vale a pena. Mas tem mais....

O filme bate pesado em outro tema: a relação entre crime e elite, entre tráfico e consumo. Pois se há um vilão, esse vilão é a classe média alta carioca, universitária, intelectualizada, que faz trabalho em ONGs na favela, tem "consciência social", lê Foucault mas fuma maconha e trafica, alimentando o crime no morro. Em cena memorável, aspirantes a intelectuais da PUC/RJ fazem um seminário sobre Michel Foucault, um dos teóricos "papas" dos defensores dos direitos humanos, criticam a violência policial e a "opressão do Estado sobre os mais pobres" enquanto acendem um baseado..... A hipocrisia da classe média intelectual de esquerda é mostrada abertamente no filme, a tal ponto que tive um orgasmo na cena em que o policial honesto e esforçado, estudante universitário pobre, senta o cacete no traficante de classe média, fazendo passeata enquanto pedia paz no morro....

Não à toa, o filme foi deixado de lado na escolha do representante nacional ao Oscar. Afinal, um filme que bate pesado na esquerda brasileira, ávida consumidora de maconha nas USPs da vida, enquanto fala mal da violência policial e lê sociólogos franceses, incomoda. Incomoda tanto que o escolhido pelo júri foi "O ano em que meus pais saíram de férias". Temática? A repressão da ditadura militar contra intelectuais de esquerda..... em outras palavras, nada melhor que fugir para o passado, para evitar debater o presente. BOPE neles.

1 Comments:

Blogger Estiverson E. Ribeiro,estudante de projetos-FATEC. said...

sou aluno do zapp (q bancou vc na REAL esses dias, q vc esqueceu a carteira) a respeito do filme, achei muito bom,pois como vc comenta, ele não mostra o "bandido e o mocinho",e sim,retrata o modo de como pessoas q trabalham em orgãos publicos,se corrompem,em consequencia do salário baixo,ou pessoas q entram no crime por não terem opção, e coloca em evidência a ignorancia dos universitarios em relação ao trafico.......acho q vc professor ja deve estar ciente das intimações q o diretor do filme esta recebendo de um promotor filho da P...
o filme mostra tbm a influencia q a midia tem nas pessoas na cena onde os estuDantes maconheiros estao apresentando o trabalho,e entram em discussão com o policial "Andre".......

By Estiverson E.Ribeiro

5:51 PM  

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