Dois deuses em luta
Não existe liberdade individual. Não, sem que existam limites claros para ela. A liberdade só pode ser conjugada na primeira do plural, "nós". Se a liberdade é conjugada na primeira do singular, "eu tenho toda a liberdade" , então imediatamente não existe mais liberdade coletiva, mas a tirania absoluta de um, o que tem a liberdade, sobre os que outros, que não têm.
Portanto, numa sociedade na qual vivem pessoas, num espaço público, a liberdade é para "nós", o que imediatamente leva a uma conclusão: a liberdade deve ser compartilhada, portanto tem limites. O grupo humano cria esses limites, mutáveis, históricos, mas sempre existirão. Caso contrário, caimos de novo no argumento inicial: só o tirano tem todas as liberdades.
Liberdade individual é portanto um contrasenso, mas ela é possível se acompanhada de outra noção: a propriedade privada. Quando alguém delimita um pedaço de espaço e diz "isto é meu", na hora ele cria a sua liberdade individual, dentro do qual naquele espaço, ele pode tudo. A liberdade individual é uma invenção burguesa, liberal, acompanhada do desenvolvimento do capitalismo que criou a noção gêmea de propriedade privada. Aliás, interessante notar que no XIX, os defensores da escravidão usavam o argumento da liberdade individual: afinal, diziam eles, um escravo é uma propriedade privada, portanto eu que sou dono e comprei por ele, tenho justo direito e liberdade de tê-lo.
Num espaço público, a liberdade é sempre compartilhada. Portanto, exige limites.
Falo isso em função das charges publicadas sobre Maomé num jornal dinamarquês e depois em outro jornal francês. É evidente a questão dos limites. Como um jornal opera num espaço público ( ele aliás "publica" uma edição), sua liberdade não pode ser absoluta, senão temos uma tirania: a tirania da imprensa e de meia dúzia de jornalistas, que pode tudo. Pode até mesmo ofender gratuitamente a fé de outros, sem que nada lhe seja cobrado. Afinal, o jornalista tirano diz, ele tem "liberdade de expressão".
Se essa liberdade de expressão é absoluta, ela é tirania no espaço público. Acabou a liberdade de todos.
Na verdade, trata-se de uma disputa teológica: de um lado, o Deus Islão, cujo profeta é Maomé, que ainda mantém ritos, mitos, espaços sagrados. De outro lado o Deus Dinheiro, cujo profeta é o Lucro. Nessa última religião pode tudo, desde que termine em lucro. Claro que os jornais que publicaram as charges não eram inocentes: sabiam que criariam tumulto, sabiam que daria debate e portanto.....venderiam mais jornais. Simples assim: dá lucro, demorou pra fazer. Não interessa outros deuses medíocres que impõem limites ao sagrado, tal como Islão ou Iavé. Um único mandamente basta: " Vendamos!".
Dinheiro é um Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente. Não há espaço, seja ele privado, sagrado ou público, que esteja fora Dele. Mas o Islão também é Onipresente, Onisciente e Onipotente, portanto ele igualmente quer ocupar todos os espaços. Como Um tem limites e o Outro não tem, temos uma disputa teológica, quase uma Cruzada. O jornal fez seu sacríficio ao Seu Deus, ganhando dinheiro e dando risada enquanto os muçulmanos gritavam aos céus pedindo justiça, vingança e liberdade de serem deixados em paz. Mas pelo jeito, Deus Dinheiro não é misericordioso.
Portanto, numa sociedade na qual vivem pessoas, num espaço público, a liberdade é para "nós", o que imediatamente leva a uma conclusão: a liberdade deve ser compartilhada, portanto tem limites. O grupo humano cria esses limites, mutáveis, históricos, mas sempre existirão. Caso contrário, caimos de novo no argumento inicial: só o tirano tem todas as liberdades.
Liberdade individual é portanto um contrasenso, mas ela é possível se acompanhada de outra noção: a propriedade privada. Quando alguém delimita um pedaço de espaço e diz "isto é meu", na hora ele cria a sua liberdade individual, dentro do qual naquele espaço, ele pode tudo. A liberdade individual é uma invenção burguesa, liberal, acompanhada do desenvolvimento do capitalismo que criou a noção gêmea de propriedade privada. Aliás, interessante notar que no XIX, os defensores da escravidão usavam o argumento da liberdade individual: afinal, diziam eles, um escravo é uma propriedade privada, portanto eu que sou dono e comprei por ele, tenho justo direito e liberdade de tê-lo.
Num espaço público, a liberdade é sempre compartilhada. Portanto, exige limites.
Falo isso em função das charges publicadas sobre Maomé num jornal dinamarquês e depois em outro jornal francês. É evidente a questão dos limites. Como um jornal opera num espaço público ( ele aliás "publica" uma edição), sua liberdade não pode ser absoluta, senão temos uma tirania: a tirania da imprensa e de meia dúzia de jornalistas, que pode tudo. Pode até mesmo ofender gratuitamente a fé de outros, sem que nada lhe seja cobrado. Afinal, o jornalista tirano diz, ele tem "liberdade de expressão".
Se essa liberdade de expressão é absoluta, ela é tirania no espaço público. Acabou a liberdade de todos.
Na verdade, trata-se de uma disputa teológica: de um lado, o Deus Islão, cujo profeta é Maomé, que ainda mantém ritos, mitos, espaços sagrados. De outro lado o Deus Dinheiro, cujo profeta é o Lucro. Nessa última religião pode tudo, desde que termine em lucro. Claro que os jornais que publicaram as charges não eram inocentes: sabiam que criariam tumulto, sabiam que daria debate e portanto.....venderiam mais jornais. Simples assim: dá lucro, demorou pra fazer. Não interessa outros deuses medíocres que impõem limites ao sagrado, tal como Islão ou Iavé. Um único mandamente basta: " Vendamos!".
Dinheiro é um Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente. Não há espaço, seja ele privado, sagrado ou público, que esteja fora Dele. Mas o Islão também é Onipresente, Onisciente e Onipotente, portanto ele igualmente quer ocupar todos os espaços. Como Um tem limites e o Outro não tem, temos uma disputa teológica, quase uma Cruzada. O jornal fez seu sacríficio ao Seu Deus, ganhando dinheiro e dando risada enquanto os muçulmanos gritavam aos céus pedindo justiça, vingança e liberdade de serem deixados em paz. Mas pelo jeito, Deus Dinheiro não é misericordioso.