Monday, March 26, 2012

Multilateral X Unilateral : ainda a questão do Estado

Ele foi o primeiro Estado criado a partir de um organismo multilateral, no caso, pela ONu em 1948. Ele foi a esperança de milhões de judeus, perseguidos durante séculos, principalmente na Europa. Ele, claro, foi criado sob o impacto sinistro do massacre de judeus executado pelas mentes racistas doentias da Alemanha ( embora, o antissemitismo não seja apenas alemão, mas europeu). E hoje, este Estado rompe com Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a mesma entidade que o criou.

Se eu fosse judeu, ficaria triste e revoltado até, pelo abuso da memória dos que foram mortos na II Guerra. Pois cada vez que alguém critica o Estado de Israel pelos absurdos que ele comete contra a população palestina, é imediatamente comparado aos nazistas e é taxado de antissemita. Abuso da memória da dor alheia: duplamente assassinados, pelos nazistas e, e é pesado mas verdadeiro dizer isto, pelo atuais comandantes da política externa do Estado de Israel.

Sim, Israel é um Estado que tem o direto de existir. Além do mais, tem sim o direito de se defender. Por isso, tem o direito de atacar ? Tem o direito de oprimir ? Seu passado triste gera uma "não-culpa" eterna, que permite ao Estado de Israel toda sorte de imunidade, sem nenhuma represália? Imagine se o Irã simplesmente sai da Agência Nuclear da ONU ? Em poucas semanas é bombardeado. Se o mesmo Irã não colabora com a mesma ONU, sofre sanções. Quais as sanções que Israel sofrerá por não mais colaborar com o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas ? Claro, nenhuma. Se concordo com as frases idiotas antissemitas ditas por alguns membros do governo iraniano? claro que não. Mas se os organismos multilaterais são órgãos que visam a conter o "self-help" e o unilateralismo estatal, então Israel, que foi criado como Estado por um desses organismos, deveria, no mínimo, se deixar criticar construtivamente por eles e mudar sua política em relação aos assentamentos palestinos, tristemente se assemelhando aos guetos monstruosos do leste europeu dos anos 30. Responder a um passado de ódio com mais ódio: eis a receita para o óbvio, mais ódio ainda. Mas pelo jeito, o "complexo de Massada" de que alguns críticos falam, ainda é forte em Israel. O argumento do próprio Estado israelense diz isso:
"Eles sistemática e serialmente tomam todo tipo de decisão e condenação contra Israel sem nem simbolicamente considerarem as nossas posições". Em suma, TODO o mundo é antissemita...somos o único povo perseguido no mundo, temos o direito de atacar sem responder a nenhuma lei ou organismo multilateral.

Se todos os Estados pensassem assim...






texto: Folha de S. Paulo: 26/março/2012
Israel anunciou nesta segunda-feira o rompimento dos seus contatos com o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que na semana passada decidiu investigar os assentamentos judaicos da Cisjordânia.

O rompimento, anunciado pela chancelaria de Israel, implica que os investigadores da ONU não poderão realizar seu trabalho pessoalmente no território israelense ou na Cisjordânia, que é um território palestino ocupado por Israel.

"Não estamos mais trabalhando com eles", disse o porta-voz Yigal Palmor. "Estávamos participando de reuniões, discussões, arranjando visitas a Israel. Tudo isso acabou."

A investigação internacional, solicitada pela Autoridade Palestina, foi aprovada na quinta-feira, e o único país do conselho a votar contra foram os Estados Unidos. Líderes israelenses disseram que o conselho age de forma hipócrita e tendenciosa contra Israel.

"Eles sistemática e serialmente tomam todo tipo de decisão e condenação contra Israel sem nem simbolicamente considerarem as nossas posições", queixou-se Palmor.

Segundo ele, Israel vai continuar cooperando com outros órgãos da ONU.

Monday, March 19, 2012

V por Guy Fawkes




Quem é Guy Fawkes ?

trata-se de um revolucionário, conspirador, idealizador da "Gunpowder Plot", ou "Conspiração da Pólvora", um movimento católico e popular que queria implodir o Palácio de Westminter em Londres, em 1605, para matar o rei Jaime I e pedir liberdade religiosa aos católicos. perseguidos desde a reforma anglicana efetuada por Henrique VIII. Este rei, como muitos sabem, casou-se 6 vezes, e rachou a Igreja de Roma da inglesa. Ao morrer, deixou duas filhas, Mary, católica e Elisabeth, anglicana. Mary teve um filho, Jaime. Elisabeth acabou tornando-se a rainha da Inglaterra, com o título de Elisabeth I mas morreu sem deixar herdeiros. Ela perseguiu católicos já que precisava impor a religião anglicana. Ao mesmo tempo, matou sua irmã ( meia irmá na verdade, da primeiro casamento de Henrique VIII), Mary e , com uma certa ironia, foi o filho da sua irmã morta, Jaime, que assumiu o trono após sua morte.
Jaime I teve tolerância aos católicos, mas estes, liderados por alguna radicais, queriam a anulação da Igreja Anglicana e o retorno à Igreja Católica. Foi isso que fez a "conspiração da pólvora": enquanto o rei iria discursar na Câmara dos Lordes, um grupo, liderado por Guy Fawkes iria explodir o prédio, matando o rei e quase todos os nobres. Porém, ele foi descoberto literalmente em cima dos barros de pólvora que o prédio estocava (!!!) e junto com outros, foi torturado, sendo condenado à morte. Antes de ser enforcado, já com a corda no pescoço, conseguiu pular do cadafalso, matando-se antes.

E o que ele tem a ver com a máscara acima ?

"V for Vendetta", V de vingança, é um HQ escrito por Alan Moore e ilustrado por David Lloyd, publicado nos anos 80. Em uma Grã-Bretanha pós guerra nuclear, um misterioso elemento, usando uma máscara que imitava o rosto de um certo Guy Fawkes do passado britânico, usa ataques terroristas altamente teatralizados contra o governo totalitário que havia se instalado na Inglaterra. Em suma, ele luta contra o poder absoluto estabelecido. Sua referência histórica clara: o revolucionário de 1605, Guy Fawkes.

E o que esta máscara tem a ver com o mundo de hoje ?

Com a crise do capitalismo cada vez mais pior, os governos insistem em dar bilhões a bancos, enquanto o povo comum afunda em desemprego, corte de serviços públicos e falta de esperança. A máscara de Guy Fawkes na visão de David Lloyd acaba por tornar-se o símbolo dos movimentos de constentação a essa versão "financeira do fascismo", no qual bancos e governos se unem para salvar-se da bancarrota criada por eles mesmo, às custas do povo comum que quer trabalhar e viver em paz. A máscara de Guy Fawkes tornou-se o símbolo da luta contra o atual poder totalitário: entre eles, movimentos como Occupy Wall-Street

e o que esta máscara tem a ver com o mundo digital ?

hoje a internet é livre.... ou pelo menos, luta para ser. Mas governos e outras instituições tentam censurá-la ao máximo. Grupos de hackers, com forte atuação política, descentralizados, utilizam os cyber-ataques para lutar contra essas novas formas de totalitarismo: o controle da internet. Grupo de hackers, Anonymous.

Em resumo, Guy Fawkes, 1605. David Llloyd, 1982. O que os une? Sua face-máscara. Ou melhor, a face de um revolucionário, idealizada séculos depois por um ilustrador. Seu ponto em comum: a luta contra o governo e suas opressões, sejam religiosas, financeiras, de comunicação. Como se vê: os séculos passam, as lutas continuma e muitas vezes, até os rostos são iguais.

texto da revista Carta Maior

Anonymous e a guerra de informação digital
Um católico que, no dia 5 de novembro de 1605, quase conseguiu fazer voar pelos ares o Parlamento inglês com 30 quilos de pólvora, com o rei James I dentro, é o rosto oficial de uma nova revolta ocidental. Sem se encaixar num rótulo tradicional, Anonymous realiza à sua maneira o desejo não confesso de muitos cidadãos do planeta. Artigo de Eduardo Febbro.
Artigo | 26 Fevereiro, 2012 - 18:11

Paris - Guy Fawkes nunca pensou que sobreviveria a tantos séculos, e menos ainda que, mais de quatrocentos anos depois das suas andanças, a máscara que o representa se converteria em pleno século XXI no emblema daqueles que – desde os indignados até os guerreiros digitais do Anonymous, passando por toda a galáxia dos grupos antiglobalização – se opõem ferreamente à ordem de um mundo ultraliberal, depredador e indolente.

Este católico que, no dia 5 de novembro de 1605, quase conseguiu fazer voar pelos ares o Parlamento inglês com 30 quilos de pólvora, com o rei James I dentro, é o rosto oficial da revolta ocidental e, mais precisamente, o distintivo com o qual o grupo de hackersreunido sob a denominação de “Anonymous” se apresenta ao mundo. As suas ações já são parte da resistência permanente contra toda a forma de violação de liberdade segundo os critérios com os quais Anonymous a entende.

Presente há vários anos na cena do hackingcontestatário, Anonymous ganhou fama quando, em 2010, em plena ofensiva oficial contra o fundador do Wikileaks, Julian Assange, o grupo atacou as empresas multinacionais que se tinham somado ao boicote instrumentalizado pelo governo dos EUA contra todas as fontes de financiamento do Wikileaks: os portais de Amazon, PayPal, Visa, MasterCard e Postfinance, a filial dos serviços financeiros dos correios suíços, foram bloqueados pela operação Payback montada por Anonymous contra essas empresas que, sem ter nenhuma ordem judicial, trataram de impedir que o dinheiro chegasse a Wikileaks.

Era a primeira vez na história que se realizava uma ofensiva dessa magnitude não mais em nome do ciberanarquismo, mas sim em defesa de certa forma de liberdade.

Quem são e de onde vêm esses valentes que ousaram penetrar as portas mais protegidas para ferir o coração do sistema? Frédéric Bardeau e Nicolas Danet, os autores de um destacado ensaio sobre Anonymous (“Anonymous: piratas informáticos ou altermundistas digitais?’), descrevem a influência desta galáxia sem hierarquia nem manual de instruções como “um movimento que modifica a relação de formas no interior da sociedade”.

De ação em ação, Anonymous instalou-se na paisagem política mundial e excedeu em muito a herança dos seus pais culturais, a saber, toda a cultura contestatária norte-americana dos anos 70 perfeitamente representada por Stephen Wozniak, co-fundador da Apple, e Richard Stallman, o iniciador do projeto GNU.

Anonymous plasmou-se em quatro operações muito ousadas. A primeira: os ataques contra a igreja da Cientologia, em 2008. A segunda: a ciberofensiva contra o escritório de advocacia Baylout, defensores dos direitos autorais da indústria do disco e do cinema nos Estados Unidos, e contra o portal da Motion Picture Association of America (MPAA), associação que o Anonymous persegue por suas “políticas excessivas” na proteção dos direitos autorais. Terceira: a intervenção a favor de Assange no que ficou conhecido como o primeiro episódio de uma autêntica guerra da rede. Coldblood, um dos porta-vozes do Anonymous, explicou então que a operação em defesa de Assange estava a converter-se numa guerra, mas não uma guerra convencional. “É uma guerra de informação digital. Queremos que a internet continue livre e aberta a todo o mundo, como sempre foi”. O quarto episódio remonta ao dia 19 de janeiro, logo após o fecho do site Megaupload e a prisão do seu criador, o multimilionário Kim Schmitz. Lançados dos quatro pontos cardeais do planeta, os ataques orquestrados por Anonymous bloquearam os portais do Ministério da Justiça dos EUA, da Casa Branca, da Warner, da Universal, do FBI, do organismo que supervisiona a internet na França, Hadopi, e a estrutura que administra os direitos de autor, a Sacem. Anonymous conseguiu inclusive penetrar no portal da presidência francesa e modificar as mensagens de boas vindas.

A quinta e última ação ocorreu há apenas alguns dias. Um grupo que se identificou como Anonymous divulgou a gravação de uma “reunião” telefónica entre o FBI e a polícia britânica, na qual se falava de ações contra os ciberativistas. Onde estão para conseguirem se meter nestas conversas tão íntimas? “Em todas as partes”, respondem Frédéric Bardeau e Nicolas Danet, os autores do ensaio sobre Anonymous. Estes dois especialistas observam que os Anonymous não são piratas propriamente, pois não roubam nada. Tampouco são “terroristas”, mas “um fenómeno muito mais vago cujo único fio condutor é a defesa da liberdade de expressão”. Bardeau e Nadet contam que, em certo momento, “a CIA tentou realizar um perfil dos simpatizantes de Anonymous: era tão indefinido que terminava apontando para a metade do planeta”

O seu lema tornou-se realidade: “somos legião”. Neste sentido, Frédéric Bardeau destaca que os Anonymous não se enquadram em nenhum rótulo. “Não são nem anarquistas, nem sindicalistas revolucionários, nem marxistas. É um movimento pós-moderno, anónimo, planetário, descentralizado. Entre os Anonymous do Brasil, muito fortes e mobilizados contra a corrupção, e os da Áustria e Alemanha, todos antifascistas, não há unidade, mas sim denominadores comuns como a liberdade e a neutralidade da rede”. Diferentemente dos indignados ou de outros movimentos antiglobalização, Anonymous atua a partir do anonimato: não há partido político, nem fórum, nem cúpula, nem manifestação. A sua identidade física é a máscara de um militante católico britânico do século XVI e os seus territórios são estes: irc.anonops.li, twitter@AnonOps, @AnonymousIRC, Facebook Anonymous, AnonOps.blogspot.com.

A origem do nome provém dos fóruns anárquicos 4chan1. Neste portal norte-americano é fácil inscrever-se e cada participante recebe o pseudónimo de “Anonymous”. Estão em muitos lugares ao mesmo tempo, alguns são hackers aficionados, outros não, universitários, empregados, militantes de uma ou de muitas causas. Anonymous realiza à sua maneira o desejo não confesso de muitos cidadãos do planeta: colocar uma pedra na engrenagem da perfeição ultraliberal, abrir a cortina de sociedades ultrapoliciais que só protegem os interesses do poder. Nicolas Danet comenta que “Anonymous é um pouco como o voo dos pássaros migrantes. Formam uma massa que conhece o objetivo, mas um pássaro pode deixar o grupo a qualquer momento”. Os vídeos de Anonymous já são famosos, tanto pelo conteúdo como pela voz metálica que anuncia: “Somos legião. Não perdoaremos, não esqueceremos. Tenham medo de nós”.

Artigo de Eduardo Febbro, traduzido por Katarina Peixoto para Carta Maior

Friday, March 16, 2012

Ab'Saber: os sábios estão indo.

Com a morte de Aziz Ab'Saber, o Brasil perde uma importante referência não só para a Geografia, mas para todas as Humanas: ele foi um desses grandes "intérpretes" do Brasil, daquela velha guarda da USP que fez a fama desta universidade como celeiro de pensadores e criadores de ideias.
Fica sempre uma pergunta: com esses e outros nomes se perdendo, a USP teria alguém para substituir ? Seriam o tempos outros ? Ou seja, aqueles "sábios" do passado como Ab'Saber, Florestan Fernandes, Sérgio Buarque, Caio Prado, os ainda atuantes Alfredo Bosi, Antônio Cândido... não precisariam ser substituídos, porque afinal, estaríamos em tempos de conhecimento multifacetado, não mais centralizado em pessoas específicas ? Ou na verdade, estamos sim é em tempo medíocres, nos quais não há mais espaço para grandes pensadores, condores de ampla visão sobre temas universais ? O futuro dirá, mas com certeza, já temos saudade deste passado.


texto: Estado de SP
O pesquisador Aziz Nacib Ab'Saber, um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física e referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, morreu nesta sexta, aos 87 anos, de enfarte.
O geógrafo era professor emérito da USP, autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos - Mauro Bellesa/Divulgação
Mauro Bellesa/Divulgação
O geógrafo era professor emérito da USP, autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos

O velório será realizado a partir das 19 horas no Salão Nobre da FFLCH, que fica na Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, São Paulo, no Prédio da Diretoria e Administração. O sepultamento será neste sábado, às 11h, no Cemitério da Paz (Rua Doutor Luís Migriano, 644, Morumbi, São Paulo.

Professor emérito da FFLCH-USP, ele é autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos e considerado referência da geografia em todo o mundo. É autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil. Era presidente de honra e ex-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Ruth Andrade, secretária-geral da entidade, contou ao Estado que foi uma morte tranquila. "Ele acordou, fez café da manhã para toda a família, sentou-se em uma cadeira, falou "Ai" e morreu." Segundo ela, nos últimos meses o pesquisador estava visitando toda a semana a SBPC por conta da realização do terceiro volume da coleção "Leituras Indispensáveis", ainda a ser publicado.

Texto publicado no site da entidade conta que um dia antes de morrer, "o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas." Ruth lembra que ele ainda pediu para que o material seja distribuído a estudantes nos eventos da SBPC. "Será agora a nossa missão", diz.

"Acredito que Aziz era um caso raro de casamento entre ser cientista e ser humanista. Ao mesmo tempo em que ele tinha um conhecimento incrível, não só de geografia, mas de várias áreas, ele tinha a perspicácia de fazer a relação desses assuntos com o cotidiano das pessoas", lembra.

Apesar da idade, Aziz continuava bastante ativo e polêmico. Em várias oportunidades se mostrou contrário ao alarmismo em torno do aquecimento global, reforçando seu aspecto natural. Recentemente também se manifestou sobre a mudança do Código Florestal no Brasil, criticando a ausência, no texto, de todo o zoneamento físico e ecológico do País, "como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Na ocasião, ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais", lembra o texto da SBPC.

Wednesday, February 15, 2012

Auf Wiedersehen, Griechland....

A Grécia sairá da zona do euro. A chance desta informação ser confirmada é cada dia maior. A dívida do país é impagável: já passou dos 150% do PIB e cresce. A receita recomendada pela União Europeia e pelo FMI é realizar cortes agressivos no orçamento do estado grego, incluindo crueldades como cortes em pensões e aposentadorias, aumentos brutais de impostos, demissão de funcionários públicos e privatizações massivas. As duas primeiras medidas são simplesmente contra-producentes: afinal, numa economia em grave recessão, a Grécia perdeu 7% do PIB só neste trimestre em taxa anualizada, cortes drásticos só trazem mais pobreza à população, portanto menos consumo, portanto menos impostos ainda... e a última receita é simplesmente idiota: quem vai comprar uma empresa grega numa hora dessas ?

Conclusão: o país quebrou. "Resta tocar um tango argentino" como diria Manuel Bandeira... dá o calote no credores privados ( leia-se bancos) e troca-se de moeda: do euro para a volta do dracma. Moeda que já nasce ultra-desvalorizada, fruto de um país falido.

Isso é bom ? Claro que não, mas não há outra coisa a fazer, a não ser o pior, que é continuar na atual sangria suicida: o BC europeu empresta pra Grécia continuar pagando dívida de curto prazo, a juros altíssimos, aumentando a dívida da Grécia, que por sua vez tem que cortar ainda mais gastos para poder ter mais dinheiro para pagar a dívida de curto prazo... enquanto isso, a economia entra em colapso, com contínuo empobrecimento e recessão, gerando ainda menos impostos ao Estado que não tem dinheiro para pagar sua dívida... Acabou o sonho do euro para os gregos. Pelo menos, por enquanto.

E o que aprender com isso ? Parcela de culpa é dos governantes gregos, ambos, socialistas e conservadores, que se alternaram no poder fazendo a mesma coisa: corrupção generalizada, empreguismo público descontrolado e gastos públicos inúteis, como as Olimpíadas. ( aliás, você conhece algum país sul americano que é assim...?). Mas há parcela de culpa da própria União Europeia. Ela tinha regras para a adoção do euro que nunca foram cumpridas. Vários países tinham déficits enormes, financiados alegremente com juros baixos por causa do euro. Claro que a U.E. deveria ter cortado o problema antes dele atingir o ponto de inflexão. Não o fez.
E parcela ainda maior de culpa é dos bancos privados que financiaram a farra da Grécia até a irresponsabilidade e agora, no "inverno de nosso descontentamento", querem aida tirar mais um pouco do sangue grego, propondo mais empréstimos com juros ainda maiores. Que fiquem com o prejuizo, se é que ficarão... afinal, boa parte destes empréstimos que tomarão calote já estavam pagos pelos juros indecentes dos últimos anos.

Precisa perguntar quem vai pagar a conta ? o povo daquele país. Que amargará alguns bons anos, mais do que já têm, de desemprego, empobrecimento e agora, com uma nova moeda desacreditada, inflação. O fantasma da Grécia é a fome, literalmente, de sua população. Bem vindo ao século XIX, em pleno XXI e em plena Europa Unida.

A expulsão da Grécia da eurozona tem um imenso peso simbólico: afinal, o próprio conceito de "civilização ocidental" nasceu lá. Mas o euro não vai morrer e nem a Grécia. Depois do calote, a economia da Argentina se recuperou com muito maior rapidez do que se pensava. Pequena e dependente do turismo, a Grécia ficará muito barata com seu futuro dracma, atraindo turistas que tinham fugido do país por causa dos preços artificialmente altos pela adoção do euro. Será ruim, mas não um desastre. E fica o aviso: moeda forte demais, corrupção e ineficiência do Estado e gastos com Olimpíadas foram as receitas do caos grego. O Brasil é bem diferente. Nós vamos gastar ainda mais dinheiro, porque temos a Copa do Mundo...

Tuesday, November 08, 2011

Você faria História na USP?

Fiz História na USP, concluindo o curso em 1997. De lá pra cá a única coisa que me espanta é: nada mudou.... principalmente nos discursos dos "líderes" estudantis.
Quem eles representam? Certamente não os mais de 80 mil alunos da USP.

O chamado "movimento estudantil" é prisioneiro de uma visão romântica do passado, um passado de mais de trinta anos, quando ele tinha o que combater, o regime autoritário. Passado aquele tempo, hoje não há mais pauta de propostas, apenas um monte de siglas perdidas num ideario ultra-esquerdista que pouco ou nada tem a ver com a realidade atual. "Movimentos" como "negação da negação" ou "LER-QI (Liga Estratégia Revolucionária – Quara Internacional), vinculados a partidos de mínima representação como o Partido da Causa Operária (PCO), PSTU ou o PSOL. Um monte de siglas, partidos e discursos para tentar disfarçar o óbvio: boa parte desses estudantes ficou perdida nos anos 60, sem saber exatamente o que dizer, fazer ou pior, pensar.

Pode-se tranquilamente dizer que o capitalismo é uma merda, e acredite, ele é, mas mesmo assim, não é necessário sair por ai achando que fumar maconha, invadir prédios e gritar "fora PM" é revolução. É apenas falta de perspectiva. Boa parte dos estudantes que vi berrando na tv queria ser reprimido... acreditava realmente que estava sendo "violentado" pela PM e no fundo, adoraria ser vítima. Mais parece mulher de malandro... apanha que adora. Quanta bobagem. Quem realmente apanha de polícia é morador de periferia, que nem sequer chega perto da USP. Se estudantes destes grupelhos realmente quisessem entender a violência policial, sairiam da USP e iriam morar uns bons anos no Jardim Ângela. Mas aí, deixariam de ser "intelectuais"....coisa que eles adoram (fingir) ser. Acima dos outros, dotados de certezas absolutas. Todas, retiradas do último discurso congelado de algum líder comunista dos anos 60.

A polícia pode e geralmente comete violência, mas não contra estudantes da USP. Na prática, a presença da PM no campus é uma resposta coerente, pena que talvez não eficiente, à violência criminal que lá existe, incluindo estupros e latrocínios. Pode-se até criticar que a PM no campus deveria se preocupar com esses assuntos e deixar de lado a questão maconha, de menor importância. Mas por isso invadir reitoria e fazer quebra-quebra dizendo que a PM é uma "força de repressão" é mera desculpa supostamente ideológica a uma falta de senso de realidade. Vi uma estudante berrando no ônibus enquanto ia para a delegacia que os policiais dentro da reitoria fizeram um cordão de isolamento entre os estudantes com cassetetes, usando de "violência psicológica".... fora a piada pronta, pelo jeito ela ficou assustada com o cassetete do policial, dizer que isso é repressão é passar do ridículo.

No mundo hoje, nos países em crise, há movimentações estudantis, de desempregados, de "homeless", contra o capitalismo financeiro selvagem e destrutivo. Mesmo no vizinho Chile, há poucos meses, estudantes saíram nas ruas, com amplo apoio popular aliás, pedindo exatamente o que a USP tem: universidade gratuita, ou pelo menos, bolsas de estudo. Pautas de ideias válidas, coerentes. Por aqui, meia dúzia de grupelhos de esquerda querem a PM fora do campus para fumarem maconha, sem nenhuma preocupação de que o campus sem PM poderia ser, como é, alvo de crimes violentos. O "direito" e a "reivindicação" deles passou a ser uma mera questão de um baseado. Talvez seja bom indício de que eles deveriam largar o baseado e ler um pouquinho mais.

E para responder a pergunta do post: SIM, eu faria. Por mais que aquela faculdade tenha um grupo de idiotas da esquerda anos 60, acredite, eles são minoria. O curso ainda é uma bela referência em leitura, reflexão e visão de mundo. O resto é apenas barulho sem importância.

Tuesday, June 28, 2011

de volta ao XIX

De volta ao XIX
O Capitalismo vai bem, obrigado.

Isso quer dizer que, a despeito de todo discurso social, ambiental, "responsável", o bom e velho capitalismo continua o mesmo: espoliador, injusto e no limite, burro. Ou para usar uma velha expressão marxista, suicida.
Veja essa pesquisa: o "0,1% mais bem pago no Reino Unido recebia, em 1979, 1,3% dos salários.Hoje, recebe 5% e, em 2030, deve receber 14%".
Isso, num país com séculos de luta social e com um Estado de bem estar social que, apesar dos ataques que sofreu na era neoliberal de Tatcher, continua sendo um dos melhores do mundo. Há outras pesquisas que indicam que nos EUA a coisa é ainda pior: descontada a inflação, o salário real dos trabalhadores americanos caiu desde 1970 até hoje, apesar do enorme aumento de produtividade desde então. Ou melhor dizendo, por causa mesmo desse aumento, pois afinal, o que a informática trouxe foi apenas desemprego, em parte compensado por outros movimentos na economia, gerando outros empregos, mais bem pagos mas em menor número.

Não à toa, os EUA não conseguem sair da crise econômica: parte de sua enorme classe média, justamente a chave para seu sucesso nos últimos 100 anos, foi pro espaço. E muito provavelmente, não vai voltar tão cedo. Algo semelhante pode ocorrer na velha Europa tão socialmente equilibrada, ainda... a crise do euro, financeira, afetará a economia real, de indústrias, pessoas e comércio, por anos a fio, talvez por toda uma geração. "Geração a rasca", como dizem os portugueses, "premiados" com taxas de desemprego acima dos 12%. E se você acha que educação resolve o problema, essa é a geração mais educada da história europeia. E mesmo assim, mal consegue gerar empregos de garçom para mestres e doutores das melhores universidades. De repente, o capitalismo "desenvolvido" descobre que estamos de volta ao XIX: poucos, bancos e enormes corporações, ganhando muito, enquanto a maioria luta pelo básico. Não se engane: o capitalismo continua exatamente o mesmo...
E por falar nisso, as obras completas de Marx estão sendo re-traduzidas do alemão para o português, com mais cuidado e com ótima qualidade de revisão de texto. Pela editora Boitempo, já sairam vários títulos, incluindo os da série "Grundisse", ensaios livres que Marx escreveu antes do Capital. Pelo jeito que o capitalismo vai, talvez seja uma boa leitura nos dias de hoje...





Ricos pagam pouco

VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/06/11
Há alguns dias, uma pesquisa veio mostrar o que todos aqueles que realmente se preocupam com reforma tributária no Brasil sabem: os ricos pagam pouco imposto.
Quem recebe R$ 3.300 por mês, leva para casa, descontados Imposto de Renda e Previdência, 84% do seu salário. Já alguém que ganha R$ 26.600 por mês, leva 74%.
Um profissional holandês, por exemplo, pode contar apenas com 55% de seu salário, e mesmo um norte-americano traz para casa menos que um brasileiro: 70%.
Ao mesmo tempo em que descobríamos a vida tranquila dos ricos brasileiros, chega a notícia de que a quantidade de milionários no Brasil aumentou 5,9% em 2010, atingindo a marca de 115,4 mil pessoas com fortuna de, ao menos, US$ 1 milhão.
O que não deveria nos surpreender. Afinal, vivemos em um país onde o processo de concentração de renda está tão institucionalizado que as classes mais abastadas têm um sistema de defesa de seus rendimentos sem par em outros países industrializados.
Dentro de alguns anos, a chamada nova classe média descobrirá que não conseguirá mais continuar sua ascensão social. Entre outras coisas, ela tomará consciência de como seu orçamento é brutalmente corroído por despesas com educação e saúde.
Um Estado preocupado com seu povo taxaria os ricos e as grandes fortunas a fim de ter dinheiro suficiente para criar um verdadeiro sistema público de educação e saúde.
Por que não criar, por exemplo, um imposto sobre grandes fortunas vinculado exclusivamente à educação? Isto permitiria que essa nova classe média continuasse sua ascensão social.
Tal ascensão seria ainda mais facilitada se a carga tributária brasileira parasse de privilegiar o consumo, e focasse a renda. Uma carga focada no consumo, ou seja, embutida em produtos, é mais sentida por quem ganha menos.
Há pouco, um estudo mostrou como o 0,1% mais bem pago no Reino Unido recebia, em 1979, 1,3% dos salários.
Hoje, recebe 5% e, em 2030, deve receber 14%.
Costuma-se dizer que uma das maiores astúcias do Diabo é nos convencer de que ele não existe. Uma das maiores astúcias do discurso conservador é nos convencer, diante de dados dessa natureza, de que conflito de classe é um delírio de esquerdista centenário.
Mesmo que vejamos um processo brutal de concentração de renda institucionalizado e intocado por qualquer partido que esteja no poder, mesmo que vejamos a tendência de espoliação dos recursos de países industrializados por camadas mais ricas da população, tudo deve ser um complô dos incompetentes contra aqueles que bravamente venceram na vida graças apenas a seu entusiasmo e capacidade visionária, não é mesmo?

*As Lutas de Classes na França (tradução de Nélio Schneider) - Obra em que Marx analisa um período mais longo e extremamente movimentado da história francesa e generaliza experiências teoricamente importantes da Revolução de 1848/1849 e seus resultados. Ele aprofunda o desenvolvimento sobretudo da teoria do Estado e a teoria da revolução e chega à noção de que a realização da tarefa histórica da classe trabalhadora é impossível no quadro da república burguesa. Foi publicado pela primeira vez em 1850 como série de artigos na Neue Rheinische Zeitung/ Politisch-ökonomische Revue, de Hamburgo, com o título 1848 a 1849. Em 1895, Engels produziu uma nova edição, à qual deu o título atual As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850, com uma extensa introdução. Nossa tradução atual é baseada no texto da edição de 1895.
Contando os Grundrisse são 12 títulos lançados na coleção: Manifesto Comunista (1998); A Sagrada Família (2003); Os Manuscritos Econômico-filosóficos (2004); Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (2005); Sobre o Suicídio (2006); A Ideologia Alemã (2007); A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (2008); Sobre a Questão Judaica (2010); Lutas de Classes na Alemanha (2010); 18 de brumário de Luís Bonaparte (2011); A Guerra Civil na França (2011) e Grundrisse (2011).

Boitempo editora

Wednesday, May 25, 2011

Aviso ao leitor

Cada vez mais fica evidente para mim que os conceitos de Democracia e Liberdade NÃO estão associados.... ou pelo menos, estão cada dia, mais distantes.
Vivemos numa sociedade democrática, elegemos nossos governantes, sejam eles ruins ou ainda piores, a cada 2 anos, mas nossa liberdade de pensar, de ser, de vestir, de se comportar está sujeita a uma vigilância feroz. Não que hoje alguém seja preso por falar algo ou escrever coisas diferentes do chamado "normal". Mas a vigilância é mais sutil, é uma censura prévia, uma sombra sempre a impedir o pensamento complexo, livre e criativo. A mensagem que está no ar é : pense, mas só o que se pode pensar...

veja esta situação expressa no texto abaixo que pirateio do blog do historiador e jornalista Marcon Guterman: sabemos que Monteiro Lobato, como muitos de sua geração, foi formado com ideais racistas ainda muito fortes no final do XIX e início do XX. Tal formação era científica na época, assim como sabemos que Euclides da Cunha também tinha esse tipo de pensamento. Ora, hoje o racismo é apenas lixo cultural. Mas um dia foi tese de cientista social e pensamento dominante na elite intelectual. Como ler um texto de Monteiro à luz de seu racismo? Chave crítica: entender o texto, e seu autor, à luz de sua época, o que aliás é algo tão óbvio quanto fundamental em qualquer análise literária e histórica. Pois bem, cartas racistas de Monteiro Lobato foram publicadas na revista Bravo!: resultado, a censura do politicamente correto já agiu... como sabe que simplesmente proibir tais cartas seria demais, até para eles, quer que elas sejam "carimbadas" de racistas, como numa advertência ao leitor... Conclusão 1: para o politicamente correto, somos todos idiotas, devemos ser "avisados" de "perigos" intelectuais à frente, a cada texto que lemos... Conclusão 2: você não censura Monteiro... mas censura! Lembra claramente a censura dos anos 70, quando os filmes tinham aquela tarjeta classificatória.
Impede-se o pensamento livre, a contextualização adulta, em nome de uma suposta "pureza" de linguagem e uniformidade de pensamento: Monteiro era racista ? Avise o leitor.... E por aí vai. Concordo plenamente com o texto abaixo de Guterman: Voltaire era antissemita? aviso ao leitor.... A Mônica do Maurício de Sousa faz bullyng com o Cebolinha ? Aviso ao leitor....

É uma sociedade triste, infantilizada, vigiada, uniforme. Democracia com suave tirania e uma censura leve. Aviso ao leitor.


texto do blog: Marcos Guterman
http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/
A publicação de cartas de Monteiro Lobato com teor racista, na revista Bravo!, ressuscitou a discussão sobre a necessidade de fazer a obra de um dos maiores autores brasileiros ser carimbada com advertências sobre seu racismo. Das várias manifestações a favor dessa medida, uma das mais completas foi expressa por Paulo Moreira Leite em seu blog. Ele se diz contra proibir Lobato por causa de seu racismo, mas afirma que “esses ataques” não podem “circular livremente”, “num país em que 53% dos brasileiros se consideram negros”. Para Leite, as “agressões” de Lobato demandam “contextualização” crítica, porque “o mesmo Estado que tem o dever de defender a liberdade de expressão de Lobato também tem a obrigação de condenar ataques racistas”.
É óbvio que toda obra clássica deve ser contextualizada, porque textos assim são espelhos de um passado que nos influencia de modo determinante. Para compreender um clássico, é preciso mergulhar nele e conhecer o repertório que o engendrou. No entanto, o que muda essencialmente de nossa leitura de Voltaire quando conhecemos seu lado antissemita? O que muda quando sabemos que Picasso atormentou sua amante Dora Maar para ter um modelo de sofrimento para sua obra-prima Guernica? O que muda quando lemos que o Padre Antônio Vieira, talvez o mais importante orador em língua portuguesa, considerava a escravidão uma dádiva para os negros, porque os havia tirado da condição de gentios na África?
Desse modo, a contextualização de Lobato deve ser feita sim, mas não por um militante do politicamente correto, preocupado em defender os “53% dos brasileiros que se consideram negros”, e sim por quem trate o texto como documento de uma época e explore sua riqueza para conhecermos melhor o mundo contraditório em que vivemos.
Se Lobato só puder circular com um “disclaimer” sobre seu racismo, então sugiro que a Bíblia seja sempre acompanhada de um aviso no qual se leia: “Esta obra faz apologia da escravidão e da sujeição feminina